Opinião: Do microprocessador à consciência
“Assim que me ouviu entrar, Elvia acordou do sono leve que a dominava enquanto esperava ansiosamente: ‘Como correu o teu dia ? ‘Funciona !’, exclamei consciente de que algo memorável havia acontecido. Naquela noite fria de janeiro de 1971, nascia o Intel 4004, o primeiro microprocessador do mundo !”
Inteligente e muito competente, Federico Faggin, o homem das quatro vidas nascido no Norte de Itália durante a segunda guerra mundial viria a influenciar milhões de “Millenials” através da Zilog, a empresa que entretanto criou o microprocessador Z80, o cérebro e coração do inolvidável ZX Spectrum.
Na época, início dos anos setenta, o microprocessador I4004 com 2300 transistores tinha a mesma capacidade do primeiro computador de 1946 (vinte cinco anos antes) , para uma quantidade de válvulas muito superior e, uma área ocupada substancialmente mais pequena.
Se a extrapolação for legítima e partindo do princípio que o IBM Quantum System One aparece em 2016 e o Google Sycamore ( em 2019 ), poderemos ter “microprocessadores quânticos” embebíveis em artefactos do quotidiano, algures entre os anos 2040 a 2045, ou seja, daqui a 16 / 20 anos.
Pelos continuados esforços que posteriormente Federico Faggin continua a oferecer à humanidade, vale a pena dizer que a sua ação se não esgota no momento da criação única, mas se estende pela vida fora, até aos mais profundos mistérios e do estudo científico da consciência.
E aqui chegados, aos (in)sondáveis mistérios da consciência, entramos efetivamente em zonas do conhecimento profundo, onde mais uma vez Faggin e a sua Fundação para o estudo científico da consciência têm vindo a agir desde 2011, no sentido de promover análise e reflexão, muito para além da propaganda especulativa que normalmente acompanha a disseminação de áreas do conhecimento humano de tratamento mais complexo, incerto e ambíguo, como são as teorias sobre a consciência.
É falso que estejamos a chegar ao âmago das profundezas do conhecimento e da sabedoria, e está por justificar que o arsenal tecnológico em torno das inteligências artificiais estejam em posição de esclarecer a humanidade sobre a parte racional e extremamente importante do seu futuro sustentável e evolutivo.
As diversas formas de manifestação de consciência a saber: 1 ) consciência consciente, 2 ) consciência inconsciente, 3 ) inconsciência consciente e 4 ) inconsciência inconsciente poderão ser, e são, “artificialmente algoritmizáveis” contudo, o estudo científico da consciência jamais poderá dispensar a participação da humanidade e das suas comunidades.
Utilizar as potencialidades agênticas das inteligência sincréticas artificiais para produzir entidades e “consciências” utilitárias, sem um desígnio orientado à utilidade na forma de bem estar e felicidade humana, é um dos maiores riscos (existenciais) com que nos defrontamos. Refundar a Educação e a Formação para estimular a compreensão, desenvolver inteligência e promover o estudo científico da consciência, mais do que uma vantagem ou superioridade estratégica é, uma necessidade imperiosa para a orientação dos coletivos humanos e das comunidades sustentáveis do século vinte e um.