Opinião: Do Congresso de Viena à invasão da Ucrânia
O inesperado regresso da ordem mundial ao séc. XIX pela agressão bárbara do czarista soviético à Ucrânia, a (quase) todos repugna pelo sadismo diário de crimes contra a humanidade – exceto claro, a uma mão de países anti-ocidente (votos contra a resolução das NU) e aos apparatchiks neossoviéticos, felizmente em acelerada desagregação em Portugal.
A este teatro de horrores e desumanidade atroz contra o valor da vida humana junta-se uma estridente ameaça aos valores fundamentais do mundo civilizado que a todos dizem respeito.
Assim interpretou também a Suíça esta ameaça, que quebrou o seu histórico princípio de neutralidade para naturalmente sobrepor a robustez dos seus valores às regras da diplomacia clássica que Putin unilateralmente decidiu golpear.
O abandono da neutralidade que orientou a política externa da Suíça durante 200 anos desde o Congresso de Viena, incluindo o período da 2ª guerra mundial, representa uma profunda alteração do status quo da Suíça nas relações internacionais, mas não uma inesperada sensatez política face à magnitude da ameaça real do Kremlin à paz e segurança internacionais.
Cerca de 80% do comércio de mercadorias russas é conduzido através da Suíça e à volta de 30% dos ativos de indivíduos e empresas russas são depositados em bancos suíços.
Isto é, não impor as devidas sanções à Rússia transformaria a Suíça num especulador da guerra. Hoje, por mérito exclusivo do Kremlin, não sancionar Moscovo é um ato de cumplicidade com o absolutismo e de desprezo pela democracia e todas as liberdades fundamentais conquistadas desde a Revolução Francesa.
Este trágico tempo da história mundial ainda está infelizmente por terminar, mas uma coisa já devemos antecipar: a invasão criminosa da Ucrânia veio regenerar um sentido amplo de aliança que contará com novos aliados ativos.