Opinião: Diplomacia Cultural
Termino 2021 como comecei – com Cultura. Em todas as suas vertentes é o substrato da Europa, a jurisprudência da nossa antiga História comum, cada vez mais ameaçada por tentações totalitárias, ataques de extremos políticos, cancelamentos e supressões insidiosas.
Por isso, a par da reconhecida cooperação na Saúde, inscrevi a ação cultural da Embaixada de Portugal em Dakar como a marca d’água da nossa Diplomacia pública. O milieu dakarois, herdeiro das ideias e obra de Léopold Sédar Senghor, é sofisticado, inteligente e recetivo a misturas, parcerias e colaborações artísticas, que procuramos usar em promoção dos interesses de Portugal. De facto, a cultura desempenha um papel fundamental nas relações internacionais, e em poucos sítios é tão evidente como no Senegal. Permite-nos compreender os outros, identificar pontos comuns e, quando existem diferenças, compreender as motivações que subjazem. Quarto pilar do desenvolvimento, é componente essencial e transversal ao desenvolvimento económico, social e ambiental, e é através da cultura portuguesa, dos artistas e dos criadores nacionais que mostro quem somos e o melhor de nós.
Assim foi há duas semanas. Durante quinze dias tivemos a honra de acolher em Dakar a mais promissora elite de uma nova geração dos nossos artistas, criadores e chefs, que deram a conhecer a arte e os sabores de Portugal. Mariana Malhão, Pantónio, Robert Panda, o Colectivo Warehouse, Rodrigo Madeira e Tiago Rosa deixaram a sua marca na cidade, reforçaram os laços culturais entre Portugal e o Senegal e mostraram o papel fundamental que a arte e a cultura desempenham nas nossas relações bilaterais.
Foram duas as iniciativas. O Festival ÉcoL’Art, que visou despertar os mais jovens para a consciência ambiental através da arte, foi para além de único, comovente. Durante as duas semanas em residência no Liceu Galandou Diouf, os artistas lusos trabalharam com os estudantes na produção de peças de arte e na transformação dos espaços comuns da escola, como a biblioteca, a fim de contribuir para a melhoria do ambiente de ensino e sensibilizar para as questões climáticas e a proteção dos oceanos. Juntos, revolucionaram o maior estabelecimento público de ensino em Dakar e orgulhosamente o celebraram, abrindo as portas da escola a todos no primeiro sábado de dezembro.
Este ano, a segunda edição da Cozinha do Mar foi maior e melhor. Uma outra celebração que uniu duas culturas atlânticas, promoveu ideias de sustentabilidade e trouxe, por três noites em locais emblemáticos desta capital, Portugal ao Senegal. Os chefs Rodrigo Madeira e Tiago Rosa recriaram a cozinha tradicional portuguesa e deixaram o público a chorar por mais. Já não estarei em Dakar para ver a terceira edição, mas aconselho vivamente a quem aqui estiver para reservar lugar.
Ações, pagas pelo contribuinte português, que avançam a nossa agenda de diplomacia azul e os nossos interesses, com retornos certamente maiores que o investimento. E que serviram de cola, ponto de encontro e fonte de afetos pré-natalícios para a nossa querida Comunidade portuguesa residente no Senegal – afinal, poder saborear os nossos ingredientes e vinho, ouvindo um concerto de música portuguesa ao vivo, rodeados a 360º pela paisagem envolvente no histórico farol de Mamelles, foi um privilégio singular, que tive a honra de partilhar com os nossos compatriotas em Dakar. A repetir, em 2022!
PS – Votos de um Excelente 2022 a todos os que têm perseverança para aqui me acompanhar quinzenalmente. Muita saúde e paz, são os meus desejos.