Opinião: “De parvis grandis acervus erit”

Na semana passada, tanto a Academia como a cidade de Coimbra foram apanhadas de surpresa.
Uma “super especialíssima” prova de Rally a ocorrer na mesma hora e local do que a Serenata Monumental.
Todo este caso está envolto em vários insólitos, desde a eventual coincidência ineditamente nocturna, ao desconhecimento da própria Universidade que iria acolher a prova.
Mas antes de chegar lá, esclareço uma outra confusão que atormentou os Futricas: A data da Queima das Fitas é, historicamente, na última semana de Maio.
Fruto do episódio do Boné, que já por aqui referenciei em tempos, o Cortejo da Queima das Fitas realizava-se sempre a 27 de Maio, independentemente do dia da semana, e a restante festa era organizada à sua volta.
Por questões de calendário Académico, em meados dos anos 80, a semana começou a antecipar-se.
No ano de 2019, por já não se verificarem estas condições, a data foi corrigida para voltar a estar perto da histórica. O que levou à polémica deste ano.
Da parte dos Estudantes, nada temos contra a realização da prova, nem sequer vemos incompatibilidade com a nossa festa.
No entanto, quando há a arrogância de assumir que é a Queima das Fitas que deve ser alterada algo vai muito mal.
É anátema para com a história e valores desta cidade que no espaço de um ano se realize o maior evento cultural da pandemia, a Serenata Monumental, onde até d’além mar vieram elogios aos Estudantes -e à cidade por conseguinte-, e no ano seguinte a descuremos para prioridade secundária face a um evento que pouco ou nada diz a Coimbra.
Nem a Câmara nem os seus habitantes podem ser complacentes com este caso de pura gentrificação cultural!
A Tradição de Coimbra não é uma conveniência para ficar bem nas redes sociais nas alturas que convém.
É um legado histórico, e a maior expressão de identidade cultural da cidade que a eleva a um nível internacional! O busílis da questão não é haver um em troca de outro, mas sim como compatibilizar os dois eventos para maior benefício da cidade.
Os Estudantes gostam e querem ver o Rally na cidade de Coimbra.
Mas isso não pode ser alcançado ao custo do já parco silêncio existente no largo da Sé Velha.
E da mesma forma que dizem não ser possível alterar a data ou moldes do Rally, os Estudantes também não aceitarão outra Serenata que não no coração Universitário.
A voz do fado serviu sempre de alento a gerações de estudantes, uma coisa pequena que nutre algo muito maior – parvis grandis acervus erit. Madrasta da Cidade, se escolher pelo contrário!