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Opinião: Cordão sanitário

07 de fevereiro às 11h01
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Temos, desde domingo, escutado amiúde esta expressão.

Mas não existe disparate maior para lidar com fenómenos como o “Chega”.

Afinal de contas, desprezar as causas ou isolar os protagonistas já resultou em 11,9% nas eleições presidenciais e no crescimento de 1 para 12 deputados.

Ao invés, importa analisar cuidadosamente o perfil dos eleitores, o respetivo contexto socio-económico, as razões pelas quais confiaram o voto e o que mais ambicionam.

A visão simplista de assumir que o “Chega” de Ventura representa o anti-sistema e que, assim, congrega todo o tipo de insatisfações é demasiado redutora.

Vale a pena ir mais fundo e compreender que existem motivações distintas para quem votou em Ventura, antes, e no “Chega”, agora.

Olhemos, pois, para alguns dos dados eleitorais…

O “Chega” obteve mais votos em concelhos com menor poder de compra, com menor número de escolas, com maior taxa de retenção escolar, com menos casamentos católicos, com menos camas hospitalares e com menor número de espectadores de cinema, por exemplo, relativamente à média nacional (fonte: www.eyedata.pt/eleicoes/legislativas2022 ).

Em regra, os melhores resultados foram no Alentejo e na área metropolitana de Lisboa, em bolsas que antes eram dominadas pela extrema-esquerda.

Destarte, estamos perante um voto não ideológico, mas um voto de protesto puro, donde mais atenção do poder político e investimento público são formas de atalhar caminho.

É, ainda, curioso e paradoxal observar que o eleitorado mais pobre ter-se-á identificado com o “Chega”, o mesmo partido que propõe, por exemplo, acabar com o Rendimento Social de Inserção, que lhe é destinado.

Ou seja, existe pouca racionalidade neste voto populista, que se deixou enlevar pela demagogia e palavras de ordem contra os políticos, os emigrantes e “o sistema”.

É verdade que, eleitoralmente, o PS foi quem mais beneficiou com o crescimento do “Chega”, porque subtraiu ao PSD e atraiu uma boa parte de votos da extrema-esquerda, mas a democracia não se esgota nos atos eleitorais e, por isso mesmo, caberá ao novo governo criar as condições para atacar as causas profundas deste fenómeno populista e demagógico.

Varrer para debaixo do tapete este problema é meio-caminho andado para o alimentar!

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