Opinião: “Briosa minha briosa
Escrevo hoje sobre algo porventura mais próximo das leitoras e leitores deste Diário. Na verdade, nem em Macau, nem em Dakar, nem em Tóquio, deixo de acompanhar com atenção e sentido crítico o que se passa em Coimbra, cidade onde nasci, cresci e me formei, eternamente dona da minha juventude.
É, pois, com pesar que vi a Académica descer novamente de divisão, desta feita à terceira (Liga 3 de forma eufemística), onde jogará pela primeira vez na sua história. Com todo o respeito que me merecem os clubes de todas as divisões, que verdadeiramente movem o futebol e os seus apaixonados, um clube que tanta emoção desperta, não só em Coimbra, mas por Portugal inteiro e pelas nossas Comunidades pelo mundo, ser novamente relegado merece uma análise – também aí – crítica.
Primeiro, porque a Académica representa mais do que a sua performance desportiva. Essa, como em todos os clubes, terá os seus anos de glória e de azares. A discussão de táticas e jogadores deixo-a para outros comentadores. A Académica é todo um símbolo: de futebol, sim, mas também de Portugal, de Coimbra, da sua Universidade, Alta e Sofia, dos seus estudantes, de gerações que há séculos se deslocam de todo o território nacional, das grandes cidades às pequenas aldeias e vilas e até, em tempos, do Ultramar, para estudar na mais antiga universidade do país. Une-os os tempos de estudante, a felicidade de ser jovem em Coimbra, os fados e os copos, a paixão por este clube que os representa. Todos terão, como eu, um clube de origem ou de família. Mas a Académica terá, sempre, um lugar especial nos nossos corações.
Ver, assim, a Comissão Eleitoral da Académica anunciar o anulamento das eleições, marcadas para 15 de maio, por inexistência de candidaturas, numa Associação nascida a 3 de novembro de 1887 (mais antigo clube em atividade na Península Ibérica), entristece-me profundamente, até porque é um sinal que ultrapassa as desfortunas do clube. Revela-se, sim, mais uma trágica síndrome da longa marcha de Coimbra para a irrelevância. Uma cidade que se tem por terceira (!) do país não pode aceitar a permanência do seu passado nos livros de História enquanto vê o desaparecimento da relevância nacional no presente e futuro. Acatar uma posição de mero prestígio histórico não se coaduna com o desenvolvimento e prosperidade que merecem a cidade e os seus habitantes – como se vê pelo caso da Académica.
Pois que se desperte, em todos os conimbricenses e estudantes, venham donde vierem, o calor que nos movia e que moveu gerações, nesta que foi em tempos capital de Portugal. Coimbra tem uma história invejável, mas devemos ter os olhos no futuro, com um plano e uma estratégia concretos e realizáveis. Que se comece pela Académica, querida Briosa, e que se faça da minha cidade e das suas instituições inveja outra vez.
Uma pequena questão… quantos dos senhores doutores indignados pela descida de divisão da Académica viram sequer um jogo no último ano no estádio? Ou até nos últimos cinco anos?
Coimbra é uma cidade que vive de aparências e de "direitos por decreto" só porque os senhores doutores acham que devem ser superiores aos outros…