Opinião: Au revoir, Dakar
Cheguei, com as minhas âncoras, a Andrea e o João, no início de setembro de 2018 a Dakar.
O clima, ora seco, ora húmido, sempre quente, foi o primeiro anfitrião.
Houve, ao início, muitas mudanças a fazer, adaptações a implementar. Desde já, e com carácter de urgência, a reafirmação de Portugal como potência diplomática na África Ocidental.
No primeiro ano, presidi à mudança das instalações da Embaixada, de uma antiga moradia isolada para modernos apartamentos num dos mais prestigiosos edifícios da capital.
Os dias de cortes de luz, falhas de equipamento, lacunas de atendimento e desculpas esfarrapadas que nos empurravam para o “portugal dos pequeninos” finalmente acabaram.
Com a chegada de um segundo diplomata (obrigado por tudo, João) como meu adjunto, tudo se encaminhava para um histórico sucesso da Embaixada de Portugal em Dakar.
Os ventos da História nem sempre sopram de feição, e a Pandemia testou a resiliência do nosso novo projeto.
Com a cabeça fria e a determinação que as crises exigem, resistimos e saímos reforçados.
Evacuámos dezenas de portugueses, dispersos por um vastíssimo território, desde a fronteira com Bissau em Casamança ao interior de Conacri.
Embora tenso, foi também um momento de extrema solidariedade na Embaixada: aproveitámos a pandemia para reorganizar e digitalizar os serviços, chegar virtualmente onde nunca antes tínhamos ido, contactar com empresários e investidores, cooperar com a União Europeia e parceiros no terreno.
Sem nunca esquecer que a minha – a nossa – jurisdição não se cingia às fronteiras do Senegal, mas que se estendia ao deserto saheliano do Burkina Faso e às florestas húmidas da Costa do Marfim.
Durante estes três anos e meio, pude reforçar e trabalhar com uma equipa verdadeiramente dedicada. Desde a secção consular, modernizada e equipada como nunca para um atendimento que quem nos visita merece, à Cooperação e Cultura, delegação AICEP e ao Leitor Camões, IP, que me mostrou Ziguinchor e a dinâmica comunidade luso falante no Senegal.
O meu substituto e braço direito na gestão diária da Embaixada, mas também no planeamento estratégico da nossa presença diplomática na África Ocidental, ficará mais uns tempos, com a vista sobre o Atlântico e a bandeira desfraldada na brisa tropical. O trabalho por um #portugalmodernoecompetitivo está bem encaminhado, mas ainda não terminou.
Fiz amigos e contactos com gente dos mais variados credos e proveniências.
A todos, a minha gratidão por anos inesquecíveis. Mas foi a nossa querida Comunidade que mais me marcou, na bonança e na borrasca, com uma solidariedade e portugalidade sem fim.
Olhando para trás, há muito de que me orgulho, demasiado para tudo lembrar: a capacitação da Embaixada; o Prémio de Embaixador Diplomático do Ano; a criação de um essencial posto para a Cooperação; a rue du Portugal; a app para telemóveis unio; a Mourinho Diplomatic Cup; a Ordem Nacional do Leão que me atribuiu o Presidente Macky Sall.
Mas foi pelos Portugueses e por Portugal que cumpri a minha missão e vivi estes honrosos anos no ponto mais ocidental do continente africano. Nunca vos esquecerei.
Aos meus amigos, companheiros, camaradas, queridos compatriotas – até breve, jàmm ak jàmm!