Opinião: Apartheid Digital

Os dados extraídos do portal Internet World Stats, em dezembro de 2021, divulgam que, somente 43,1% dos habitantes africanos vivem conectados, enquanto existem 88,4% de europeus e 93,4% de norte-americanos ligados à web. Estas notas alertam para o fosso tecnológico existente, entre continentes, expresso no seguinte mapa mundial:
A discriminação tecnológica é considerada como uma forma de pobreza e exclusão social, em virtude de restringir ou privar uma parte significativa da população mundial dos recursos indispensáveis ao desenvolvimento e geração de riqueza partilhável. A comunicação e o isolamento são barreiras ao estudo e ao conhecimento, a que se juntam a acentuação das diferenças sociais e a discriminação sexual, conjunto este que integra os principais efeitos da exclusão digital. A ONU inclui, nos seus objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS 9 ), a redução da exclusão digital. Por isso, advoga um conjunto de medidas relevantes para facilitar o acesso à tecnologia, das quais se destacam: programas de definição digital, aliança para uma Internet acessível e Free Basics. Esta última iniciativa promovida pelo Facebook e outras seis tecnológicas, pretende dar acesso gratuito à web através de um aplicativo móvel. Destaca-se ainda a medida Starlink, projeto promovida por Elon Musk, que prevê o lançamento de satélites no espaço para oferecer Internet de alta velocidade e com cobertura total, a preços económicos.
Os geradores da segregação digital persistem atualmente, não obstante a comercialização maciça de dispositivos eletrónicos com acesso à Internet. Os fundamentos podem ser gerados por intermédio da via dos preços, pelo défice de infraestruturas de acesso e também pela falta de conhecimento sobre a sua utilização. A marginalização tanto pode desenvolver-se pela discriminação de utilização ou pela segregação da qualidade da finalidade.
Os indicadores anteriormente considerados agregam dados de múltiplas fontes, promovendo, desta maneira, uma visão geral do fenómeno em análise, nas suas várias dimensões, além de permitirem a comparação com outros países e a realização de análises diversificadas das políticas públicas orientadas para as TIC e para a digitalização. Os índices são o retrato de fenómenos em movimento dinâmico, que representam o esforço dos governos ou da sociedade, num domínio de conhecimento específico e tecnológico, e que acabam por condicionar o ritmo, a abrangência e a direção do crescimento e desenvolvimento social e económico de um país.
Os inquéritos orientados à utilização das TIC´s e à digitalização, que têm sido aplicados em diferentes países, têm como missão a mensuração do conhecimento factual, ou seja, associam perguntas relacionadas a comportamentos e crenças, tendo subjacente os níveis de conhecimento científico nas áreas referidas. A articulação das dimensões de qualquer indicador, possibilitam testar múltiplas hipóteses da existência de correlação positiva entre a dimensão das empresas e a adoção de novas tecnologias e de estratégias de digitalização, de tal maneira, que quanto maior for o conhecimento científico, mais atenção deve ser dada aos seus impactos sociais das novas tecnologias e do processo de digitalização em curso. Neste enquadramento, as evidências permitem mapear as mudanças existentes relativamente ao fenómeno em discussão. A desigualdade digital representa as múltiplas camadas da sociedade que se esquivam do acontecimento das redes digitais, do acesso à internet e às TIC´s, feito que afeta 52% das mulheres e 42% dos homens em todo o mundo. Este episódio também é conhecido como infoexclusão ou apartheid digital. Assim, a problemática da exclusão digital apresenta-se como um game changer, desde o início do século, pelos seus impactos na contemporaneidade, em múltiplos aspetos da vida humana. Conclui-se, deste modo, que as desigualdades há muito sentidas entre pobres e ricos, transitaram, infelizmente para a era digital, e com tendências para se disseminar com a celeridade inerente às novas ferramentas tecnológicas.