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Opinião: Ano novo, vícios velhos

08 de janeiro às 10h01
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Andamos há muito a dizer que a vitalidade das democracias depende da qualidade do jornalismo e da independência dos órgãos de comunicação social. São inúmeros os exemplos, em Portugal e fora dele, que confirmam esta evidência, sobretudo com a digitalização crescente das nossas sociedades.
Redes sociais – por tanto tempo desreguladas – e tabloides que obedecem a sinistras linhas editoriais têm nos últimos anos ajudado a formatar as opiniões públicas. Existe, portanto, um evidente nexo causal entre a fraca qualidade jornalística – ou em muitos casos até a desinformação – e o recrudescimento de fenómenos extremistas, populistas e radicais.
Num ano em que teremos importantes eleições para a Assembleia da República e para o Parlamento Europeu a democracia estará mais do que nunca exposta à disseminação rápida e ampla de notícias falsas e desinformação nas redes sociais para distorcer a percepção da realidade. Com um universo de indecisos muito elevado o efeito potencial dessa desinformação servir para alimentar preconceitos, reforçar estereótipos e criar divisões sociais aumenta.
Os meios de comunicação social tradicionais precisam de ser apoiados. Prestam um serviço público inquestionável. Há múltiplas formas para o fazer a nível nacional e europeu, desde medidas fiscais (IVA) até à publicidade institucional. Além, claro, da correta implementação e fiscalização de inúmera legislação recentemente aprovada para disciplinar as plataformas digitais, os direitos de autor/conexos e a inteligência artificial.
Nota relevante: apoiar os média não significa controlar a propriedade ou a linha editorial a partir do poder público. Ao invés, será um investimento na qualidade democrática.
A crise económica, que a pandemia agravou e muito neste domínio, provocou um declínio da qualidade jornalística, enquanto a luta pela sobrevivência abriu a porta a conteúdos deploráveis (tantas vezes violadores de direitos fundamentais como a privacidade e o bom nome), mas isso não pode justificar uma desoneração do poder público face ao jornalismo e aos média. Mostra-se um motivo para o inverso.
Espero que a próxima campanha eleitoral seja o momento para ouvirmos dos candidatos a PM como se propõem enfrentar estes problemas, promovendo a educação mediática, fortalecendo as instituições jornalísticas, incentivando a verificação de factos e, em suma, investindo seriamente no jornalismo de qualidade.

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