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Opinião: A música é uma arma

02 de setembro às 09h40
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Nas últimas semanas, notícias em catadupa, vindas dos Estados Unidos, deram-nos conta que diversos artistas e bandas de renome mundial mostraram indignação – expressa já pelas vias judiciais! – pelo uso não autorizado das suas músicas e composições pela campanha presidencial de Donald Trump. De Foo Fighters a Isaac Hayes, de Céline Dion aos ABBA, passando pelos herdeiros de Sinead O´Connor a Beyoncé, cuja música “Freedom” se tornou mesmo um dos hinos de Kamala Harris, muitas estrelas fizeram questão de dizer “Não a Trump!”.

O aspeto relevante deste movimento não assenta apenas na razão formal – a notória violação dos direitos de autor – invocada pelos artistas e seus representantes, mas sobretudo no significado político e simbólico da classe artística musical tomar opção cívica contra Trump e tudo que ele pode significar para os EUA e para o Mundo.

Neste momento tão importante para o futuro da América muitos das suas estrelas musicais (entre outras artes) não se inibem de expressar opiniões e assumir posições políticas. Algo que não é invulgar daquele lado do Atlântico. Recordemos o ano de 2020, e na sequência da morte de George Floyd, o “hip-hop” e os “rappers” tornaram-se o símbolo e as vozes da resistência contra os excessos policiais e a discriminação. Nada de novo, portanto.

Ainda nesta linha, recomendo vivamente a leitura de “A Revolução antes da Revolução” de Luís de Freitas Branco (Livros Zigurate), no qual o autor traça com elevado detalhe e minúcia documental a importância histórica da música popular portuguesa para a mudança social, política e cultural que culminaria com a Revolução em Abril de 1974.

Nomes incontornáveis – Zeca Afonso, Sérgio Godinho, José Mário Branco, José Cid e até Amália Rodrigues! – fizeram das suas músicas elementos de mobilização popular e despertadores de consciência contra a ditadura do Estado Novo. Não se trata apenas de um riquíssimo legado cultural, mas acima de tudo, passados mais de 50 anos, de uma fonte de inspiração para as novas gerações de criadores e artistas. Que venham nomes novos, razões e causas atuais há de sobra para usar a música como arma cívica!

 

Autoria de:

Ricardo Castanheira

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