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Opinião: À Mesa com Portugal – O poder cheira o poder

16 de julho às 12 h20
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“Quem vem tarde, molha no vinagre.” E como ninguém quer molhar no vinagre, põem-se todos a preceito para apanhar o azeite. E até porque não é com vinagre que se apanham moscas. É por estas e por outras que o poder cheira o poder porque o poder precisa de sobreviver para se manter no poder. É isto é válido para o grande e para pequeno poder. Neste caso, o pequeno, o que faz com que uns se encostem aos outros e façam a romaria das santas eleições que promovem o alcatroamento do beco, da estrada que já levou tantos tapetes de alcatrão que está cada vez mais alta em relação à valeta, as obrazinhas nos arruamentos que levam séculos a ficarem prontas. É fácil saber que estamos em ano de alguém ser eleito para se manter ou conquistar o poder. É ano de santas eleições. E estas santas só vêm à rua para dar a bênção ao povo de quatro em quatro anos. Mas quando vêm é festa de arromba.
Este ano é ano de romaria e de não dar vinagre, senão disfarçado. E, ainda que as restrições impeçam os grandes arraiais com cantores de altíssima reputação popular, não deixa de se ver que o poder veio à rua para pedir a bênção. Usa-se o que se pode. E o alcatrão dá sempre jeito, dá prestígio ao poder, dá sinal de que se faz alguma coisa. Até acredito que daqui a mil anos, um arqueólogo que faça investigação consiga datar as eleições pelas camadas de alcatrão.
Só é pena seja usado para o barulho das luzes e quando é realmente preciso fica no escuro da indecisão. No entretanto, vamos sorrindo e assobiando para o lado. Não temos grande remédio. Às vezes quem levanta a voz e diz o que pensa nem sempre é bem recebido. A Estrada Nacional 111 continua a sofrer ou a fazer sofrer por quem lá passa todos os dias. O tapete, mais do que rasgado, triturado e fissurado, grita todos os dias. Mas ninguém o ouve. Ao contrário do beco sem saída que foi recentemente alcatroado, a Nacional 111 está à espera. Não sabemos de quem ou do quê, mas aguarda intervenção.
Já os plátanos e outras árvores que outrora marcavam a linha da Estrada Nacional, que nunca incomodaram ninguém e que tão diligentemente davam sombra no Verão, receberam ordem de corte. Na altura, foi dito que ameaçavam a segurança pública. Nunca percebi porquê. Foi dito que seriam replantadas outras árvores. Nem cheiro disso. Ao contrário, o que temos é o vazio da vegetação, os cepos cortados como se as árvores tivessem feito mal a alguém e tivesse ficado uma prova do castigo recebido. Triste.
E no meio de tudo isto, as multazinhas. Aquelas do carro escondido e das novas técnicas para apanhar os condutores desprevenidos. Quando vejo os polícias a preparem a parafernália de maquinaria para a caça à multa lembro-me sempre dos desenhos animados “A Corrida Mais Louca do Mundo” em que se tentavam empatar os concorrentes com manobras trapaceiras e risinhos sarcásticos de dente furado a espreitar da boca.
E o vinagre que não tem culpa nenhuma, é certo. Mas dá-me um amargo de boca quando vejo o sorriso amarelo do poder a cheirar o poder e a encostar-se nas redes sociais, nas causas públicas, na missinha e outros eventos para dar nas vistas.
É claro que era mais fácil dizer que sim e ingressar na horda que quer cheirar o poder. Mas não, não me cheira nada bem. Prefiro o cheiro fresco e puro do pão feito por mãos sinceras. Cheiram melhor, as mãos e o pão.

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