Opinião: À Mesa com Portugal – humor, o quinto poder

O humor transformou-se num quinto poder, numa espécie de nuvem que paira sobre a nossa cabeça e que é melhor aceitar porque, de outro modo, vamos parecer do tempo da outra senhora. Não sei bem quem é que é mais castrador, se os ditos limites ao humor como se tem falado, se a hegemonia do humor que tem de existir mesmo quando põe em causa a dignidade humana.
Pressinto e vejo que, no recente caso mediático Joana Marques versus a dupla os Anjos, os humoristas vieram todos acudir em bloco pois que, se alguns, realmente merecem viver do humor, outros há que apenas estão a salvar o seu lugar. Também curioso tem sido o papel dos media que, mais do que quererem esclarecer, dão voz a quem se apresenta na tendência. Tendo em conta a permeabilidade dos limites do jornalismo a que assistimos, por vezes, nem sei no que quero mesmo ler e ouvir. Há sempre uma opiniãozinha, um interessezinho, uma pernadazinha que se dá em qualquer instituição de ensino, partido político ou empresa que faz com que tenhamos poucos pensadores e mais construtores de opiniões.
Retomando o tema, é claro que rirmo-nos de nós próprios é saudável, mas tal não pode ser a realidade sempre presente. E sim, devemos ter direito à nossa boa imagem, privacidade, capacidade de nos rirmos quando achamos que o devemos fazer. Fazer rir com o ridículo dos outros é tão fácil. Será humor barato, em saldo, aquele que aproveita o tropeção ou a pose desfavorável para fazer rir. Que perfil de inteligência ou traço de carácter pode tal revelar?
A caricatura é tão antiga que cada um precisa de fazer uma de si própria. Contudo, será lícito alguém ganhar dinheiro, ocupar um espaço na comunicação social para, insistentemente, usar os outros como objeto de humor? Sobretudo quando esses outros são pessoas identificadas, com carreiras, com famílias, com sentimentos?
Já deixei de ouvir os programas da manhã e da tarde na rádio porque me cansa a gargalhada constante. Faça chuva ou faça sol, o humorista de serviço tem de fazer rir a audiência. Tenha piada ou não, os animadores do programa lá soltam a risada e lá fazem o papel deles. A minha decisão foi deixar de os ouvir. E tal não significa que não tenha sentido de humor, só me aborrece aquele estado espírito espampanante.
Falamos de saúde mental, de humanismo, mas depois cacarejamos pelo que deve ser a liberdade sem limites do humorista. Respeitar o valor da dignidade humana é preciso.