Opinião: A falta de respeito dos mais velhos
A presidente demissionária do Parlamento da África do Sul foi acusada esta semana por corrupção pública e branqueamento de capitais. O escândalo abalou três décadas de democracia neste país africano, que os europeus também ajudaram o ANC governante a conquistar.
Nosiviwe Mapisa-Nqakula recorreu à Justiça para resistir com “unhas e dentes” a sua detenção, e de ser julgada no banco dos réus. É “a democracia a funcionar”, diriam alguns, mas ao ser obrigada a demitir-se do cargo, detida, e acusada de 13 crimes de corrupção e branqueamento de capitais, logo atirou que se tratava de uma “cabala política” para a “envergonhar”.
O caso ressurgiu a menos de dois meses de eleições cruciais para o Congresso Nacional Africano (ANC) de Nelson Mandela, que governa o país desde o fim do apartheid, em 1994. A política, de 67 anos, nomeada para presidir ao parlamento em 2021 e membro do comité central do ANC, é acusada de supostos subornos de mais de 4,5 milhões de rands quando desempenhou o cargo de ministra da Defesa entre 2012 e 2021.
Ora, quando o tribunal rejeitou o pedido para travar a sua detenção, Mapisa-Nqakula anunciou a demissão do cargo “em nome da Revolução” para defender a “integridade” e a “santidade” do Parlamento. Pois, o mais provável terá sido o partido que lhe tirou o tapete vermelho para evitar defender mais um escândalo a dois meses de eleições gerais. O ANC governante enfrenta acusações de corrupção, desemprego, pobreza, criminalidade, e a quase falência das empresas públicas.
Nos últimos 30 anos, a política do ANC, de esquerda radical, pavoneou-se como governante “influente” demonstrando ter “idade suficiente” para estar no poder, mas agora, no banco dos réus, declarou que estava “demasiado idosa” para assumir responsabilidades e aguardar julgamento na prisão, ao lado do cidadão normal.
Mapisa-Nqakula, antiga ministra dos Serviços Correcionais entre 2009 e 2012, criticou o “terrível estado” das prisões do seu país, afirmando que são “inseguras”, carecem de “cuidados médicos adequados”, estão “repletas” de “gangues”, e que “não têm instalações disponíveis para garantir” a sua segurança. O tribunal considerou “adequada” o pagamento de uma fiança de 50 mil rands para que aguarde julgamento em liberdade.
Diz o ditado, que o respeito pelos mais velhos é uma regra social muito antiga que se transmite de pais para filhos. Mas, como apontou uma jovem analista sul-africana, quando é que os mais velhos irão começar a respeitar-nos?