Opinião- A campanha eleitoral esqueceu-se das empresas?

O meu último artigo de 2021, num tom pouco otimista, centrou-se numa caracterização da economia portuguesa que, globalmente, se revelou como uma das mais “lentas” da OCDE e que se arrasta penosamente nos últimos 20 anos, num percurso que a atira para o fundo da tabela do Euro e da UE. Depois de 10 anos a perder poder de compra, os portugueses merecem ser postos em primeiro lugar e estar no centro das prioridades da governação.
Estando nós num período de campanha eleitoral, e, logo, de grande reflexão e trabalho de desenho programático, recordo aqui, ou deixo mesmo algumas sugestões, sobre algumas das áreas críticas que não podem deixar de ser contempladas, para que Portugal volte a crescer de forma sustentada e consiga gerar uma riqueza de que estamos todos ávidos. Naturalmente, dada a natureza deste espaço, centrar-me-ei nos aspetos que mais influenciam a vida das empresas, que acredito serem a força motora do crescimento e da geração de riqueza.
Antes de mais, é urgente recentrar a forma como as empresas são encaradas, estimuladas e apoiadas.
Os diversos partidos, com destaque para aqueles que certamente estarão à frente dos destinos de Portugal, questionaram as empresas, foram tentar perceber o que elas precisam, o que elas querem, o que as pode ajudar a serem mais competitivas?
Como podemos ajudá-las e dar-lhes condições para investirem, criarem postos de trabalho, aumentarem o valor que trazem ao mercado, para inovarem, aumentarem as suas exportações, entrarem em novas áreas de negócio?
Ao mesmo tempo, o que esperar das legislações laboral e fiscal?
Vamos apostar numa estabilidade legislativa que ofereça um quadro de segurança e de previsibilidade às empresas, que torne mais previsíveis as suas decisões de investimento e as suas operações?
E, porque não pensar num quadro de estímulos que tornem a decisão de investir mais fácil e atrativa?
Isto remete-nos, igualmente, para a questão dos custos de contexto e para as implicações da transição energética e da proteção ambiental, cujos custos estão a aparecer em força e de forma disruptiva, sem que se possam antecipar, de forma segura, as tendências futuras, nomeadamente para os custos da energia, das matérias-primas e da logística.
Adicionalmente, as empresas têm que ser impulsionadas e estimuladas a avançarem com mais energia para a adoção de estratégias de sustentabilidade que possam, adicionalmente, reforçar a sua competitividade.
Ao mesmo tempo, será que demos a devida atenção às políticas que estão a seguir os países que estão a evidenciar um crescimento mais sólido, como aqueles que nos ultrapassaram nos últimos anos ou que estão a caminho de nos ultrapassar no curto prazo?
O que estão eles a fazer diferente de nós que está a impulsionar o seu sucesso?
Isso significa também que precisamos saber como vamos atrair mais investimento estrangeiro e atrair empresas que exerçam um papel estruturante nos seus sectores, que pressionem a sua transformação e tenham um efeito de arrasto sobre a economia nacional.
Precisamos, rapidamente, encontrar um mix de políticas e soluções que nos ajudem a mitigar o enorme fosso que separa a nossa produtividade da dos países que devem ser o nosso benchmark.
Adicionalmente, as políticas para o mercado de trabalho, que incluem as políticas para a função pública e para a emigração, de forma mais imediata, e as políticas de natalidade a médio/longo prazos, são determinantes para garantir uma força de trabalho disponível e bem formada, para ajudar neste esforço de renovação e de progresso.
Claro que as políticas de formação e ensino, o desenvolvimento do sistema científico e tecnológico, e o fortalecimento do sistema nacional de inovação, serão os elementos que, num prazo mais alargado, poderão ajudar a potenciar e solidificar as conquistas e os avanços que necessitamos no imediato.
A imagem e atratividade do país serão críticos para o retomar e desenvolvimento do turismo e para a atração de pessoas e investimentos.
Todavia, há receios que não podemos iludir. Os fundos do PRR, só por si, sem que façamos nada, implicam um afluxo de dinheiro que levará a um crescimento do PIB que poderá ser superior a 1%.
No meio de todas as tentações, será que teremos o engenho e arte para fazer destes apoios a verdadeira alavanca que as empresas necessitam e o país exige?
Será que é desta vez que vamos descolar desta pobreza endémica que se apoderou de Portugal e dos portugueses?
Será que vamos devolver às empresas o papel que verdadeiramente merecem numa verdadeira estratégia de crescimento e geração de riqueza, que chegue a todos os portugueses?