diario as beiras
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Handy

15 de junho às 16h28
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Não tenho de ouvir a tua conversa. Criaram auscultadores!
Não preciso da tua música. Usa a coluna no teu espaço.
A praia não é uma discoteca, e a sala de espera não é um mercado.
Não careço das tuas opiniões – ouve com descrição, fala com recato.
A tua vida não é uma torneira
E sobretudo quero-a fechada, que não me regue os pés
Que não me molhe os ouvidos
Que não me afogue os silêncios.
Não precisas responder a todas as solicitações.
Não precisas atender todas as chamadas.
Não preciso ouvir-te os gritos.
Não precisas falar alto, porque o telefone amplia a tua voz.
O telefone foi uma benesse,
O telemóvel começa a formar uma tortura social.
As aplicações que te absorvem,
As redes que te trituram, as insanidades que expões,
São uma doença da intimidade que vais perdendo.
Violações constantes da imagem.
Exposição circense da habilidade,
Demérito e desprimor do opositor.
Não preciso de te ver na toilete.
Não preciso da tua voracidade.
Não há amigos em aplicativos.
As saudações não constroem nós.
O nós é um percurso, é um caminho longo.
A rede é um negócio e o telemóvel uma montra.
O mundo está mais livre e democrático,
Mais inclusivo e aberto,
Mas entre liberdade e pornografia
Existe uma ténue fronteira.
A vida não é um cartaz.
Amo a elegância e a cerimónia, adoro o decoro,
Detesto a animalidade e a abencerragem.
O telemóvel permite a cultura, ajuda a integração,
Facilita os contactos, abre espaço a proteger,
Concorre para uma vigilância autoritária,
Serve de câmara ubíqua, sem descanso.
O telemóvel é Yin e Yang, é bom e mau,
É como dizem dos percursos da fé – podes escolher!
E podias fazer melhor.

Autoria de:

Opinião

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