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Pela Rota da Seda: Uma cunha de Aga Khan e de Marcelo

16 de outubro às 11h40
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Khorog, também conhecida como “jóia do Pamir”, é a capital da Região Autónoma de Gorno-Badakhshan, no leste do Tajiquistão, território habitado por uma população de crença ismaelita nizari, um ramo minoritário do islamismo xiita. Tal como os outros muçulmanos, acreditam num deus único, Alá, em Maomé como seu profeta, e que este escolheu Ali como líder sucessor da religião que fundou.

No entanto, este grupo difere dos outros ramos do Islão ao seguir um imã vivo, isto é, um chefe espiritual, o “Hazir Iman”, mais conhecido por Aga Khan. Shah Karim al Hussaini, entronizado como príncipe Aga Kahn IV, subiu ao poder em 1957, e desde então ocupa não só o lugar de guia religioso da comunidade ismaelita como também da chefia da rede Aga Khan para o Desenvolvimento. Designada de AKDN, é um conjunto de organizações lucrativas e não lucrativas que trabalham para a melhoria das condições de vida de populações em África e na Ásia, independentemente da sua etnia ou religião.
Shah Karim al Hussain tem uma relação já histórica com Portugal, o país europeu que regista uma das maiores concentrações de muçulmanos ismailis, com uma comunidade de 10 mil pessoas.

Foi agraciado com várias condecorações, desde Américo Tomás (em 1960), Jorge Sampaio (1998 e 2005) ou Marcelo Rebelo de Sousa (2017). Esta Fundação estabeleceu-se em Portugal na década de 80, centrando a sua atividade em áreas como a educação ou mesmo inclusão económica. Em 1998, inaugurou-se o Centro Ismaili de Lisboa, e em 2015 foi assinado um acordo com o Governo português para estabelecer nessa cidade a sede mundial do Imamat Ismaili. Em julho de 2018 fez uma visita ao nosso país e foi recebido na Assembleia da República e pelo Presidente da República.

Sabendo que passaria por Gorno-Badakhshan, quis associar a minha nacionalidade a Aga Khan, por termos acolhido a sua sede, e procurarei uma fotografia sua com o nosso Presidente aquando da sua última visita, para a estampar numa t-shirt que ali usaria. Seria uma forma construtiva de aproximar dois mundos tão distantes e de sentir o pulso à reação da população. Tal como previra, os olhares dilataram-se e deleitaram-se com uma imagem do seu líder espiritual, e aproximavam-se, de face surpreendida, enquanto apontavam o dedo com uma postura de muito invulgar deferência perante o agora ícone sagrado que transportava comigo.

Eu, sorria, exclamava “Portugalia” e explicava quem era a outra pessoa que estava na foto. Foi das primeiras vezes em que, ao dizer o nome do meu país, a resposta que levava não era o habitual “Ronaldo”, que também conheciam, mas sim a sua referência religiosa. Nem sempre o futebol é o culto mais forte. Não faltaram também os mais fervorosos, que queriam tocar nessa peça de roupa ou que vergavam o corpo à sua passagem.

Ao fundo do jardim público da cidade, foi inaugurado no ano anterior o Ismaili Jamatkhana, projeto que custou 15 milhões de dólares, financiado pela Fundação Aga Khan, que consiste numa sala de orações com espaço para 1500 fiéis, bem como uma área administrativa, salas de aula e biblioteca. Queria visitar este novo ex-lybris da terra, mas já tinha encerrado ao público. Aqui, o que me salvou foi mesmo a cunha dos dois senhores (minto, pois foi só de um deles) que tinha na T-shirt, que, literalmente, não só me abriu portas como também tive direito a uma visita guiada.

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