Opinião: SNS: “David contra Golias” – Aposta no Público ou Privado?
Num ano marcado por enormes constrangimentos no Serviços Nacional de Saúde (SNS) com realização de várias greves médicas e de enfermagem, ausência de reestruturação das carreiras, novo pico de reformas entre os médicos, as urgências funcionaram com dificuldades, incluindo na área da obstetrícia, o SNS público conseguiu aumentar em 1.569 os partos em relação a 2022, num total de 66.094 partos, como tem aumentado a resposta às doenças raras, às situações congénitas, doenças oncológicas ou acesso a medicamentos biológicos que nenhuma seguradora cobre!
Há ainda outros sinais positivos no SNS. Na área dos transplantes (coração, rins e fígado), registou-se o maior número de sempre, cerca de mil transplantes. Também, uma das muitas áreas não cobertas pelas seguradoras ou pelos hospitais privados.
O SNS já fez mais 5 mil cirurgias programadas até novembro do que em todo o ano de 2022, num total de 666.735 mil cirurgias, segundo dados do Portal do SNS.
Em resumo, o acesso aos serviços de saúde públicos e a resolutividade melhoraram ao longo desta década. Como continua a melhorar a mortalidade infantil, esperança de vida à nascença ou a saúde materna e os níveis de cobertura vacinal que são dos mais elevados do mundo.
Todavia, o número de doentes inscritos na lista para cirurgia cresceu 10% desde o início de 2023, o acréscimo da procura vai ser inevitável nos próximos anos e os profissionais estão insatisfeitos com baixos salários e carreiras obsoletas e/ou congeladas.
Será que todos os partidos querem apostar no SNS?
Ao lermos os diversos programas dos Partidos Políticos, não é claro que se venham a entender na política da Saúde, visto constatar-se facilmente que a saúde é uma linha delimitadora, entre os Partidos de direita e os de esquerda.
A AD, quer revolucionar a saúde pública em 60 dias e motivar profissionais (mas não fala de aumentos salariais) com recurso a privados e ao setor social para colmatar as falhas de entrada nos cuidados primários, oferecer um check up anual a cada utente e criar um voucher consulta de especialidade transferindo mais verbas do SNS para o setor privado.
Recorda-se que o negócio dos hospitais privados cresceu 53% em 10 anos de 1.486 para 2.275 milhões!
Até agora, o PS, BE e PCP sempre se pronunciaram pela saúde gerida e detida pelo Estado, sendo indispensável melhorar, cuidar e continuar a reformar.
Como se vê, as diferenças entre esquerda e direita parecem indiscutíveis.
Todavia, não se pode continuar a dizer que se faz o mesmo que se fez até agora na política de recursos humanos do SNS. Não se pode continuar a estimular a promiscuidade público-privado e dizer que se defende o SNS.
É preciso ir mais longe. Prometer esperança que o próximo governo irá implementar políticas que retenham profissionais no SNS e atraiam os que foram para a privado ou emigraram.
Como? Não bastam fazer promessas genéricas. São necessárias medidas concretas. Carreiras atrativas, regimes de trabalho em dedicação exclusiva e flexíveis em regime de tempo parcial. Redução drástica das horas suplementares.
Criar o sonho que se torne realidade de uma “carreira global”.
A nova geração está ávida de ter oportunidades de crescimento, atualização, novas experiências e conciliação entre a vida laboral, familiar e social.
As pessoas querem ser vistas como trabalhadoras empenhadas e não como colaboradores ou números de uma folha excel de uma determinada ULS.
O SNS atrativo tem que rever as carreiras que passem pela conjugação de fatores como salario base mais elevado para uma vida confortável, progressão técnico-ceintifica ao longo da carreira contributiva, flexibilidade dos regimes de trabalho e saúde mental com conciliação entre a vida familiar e profissional.
A valorização dos recursos humanos deveria ser a prioridade dos partidos de esquerda que defendem o SNS, como sendo a mais importante a encetar já em 2024 para se iniciar um caminho de mudança. Dos administradores aos médicos, dos enfermeiros aos técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, incluindo farmacêuticos, psicólogos, nutricionistas e auxiliares de saúde, todos são unânimes na necessidade de melhorar carreiras e grelhas salariais.
E porquê? Porque o SNS é feito por pessoas e para pessoas,