diario as beiras
Geralopiniao

Opinião: Saúde em tempo de Guerra

23 de março às 10h38
0 comentário(s)

“Mesmo a Guerra tem limites…, porque guerra sem limites são guerras sem fim. Os profissionais de saúde estão na fronteira ulterior desses limites.”
Esta frase proferida por Peter Mauer, presidente do Comité Internacional para a Cruz Vermelha (CICV), a 3 de Maio de 2016 na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, é mais actual do que nunca.
O Direito Internacional Humanitário protege especificamente os profissionais, os estabelecimentos e veículos de saúde, porque estes são indispensáveis em tempos de Guerra. Atacar profissionais de saúde, destruir hospitais, ambulâncias ou helicópteros de transporte de doentes não são “danos colaterais”. Quando um hospital na província do Saada, no Iémen foi destruído em Outubro de 2015, tal significou que mais de 200 mil pessoas perdessem o acesso a cuidados de saúde. Em 2016 a Organização Mundial de Saúde anunciava que 60% dos estabelecimentos de saúde na Síria tinham sido seriamente danificados, tendo sido contabilizados mais de 25 mil feridos nesses ataques.
A Guerra actual na Ucrânia é um espelho desta triste realidade. A O.M.S. refere que desde o início da invasão russa já foram registados ataques a 43 unidades de cuidados de saúde na Ucrânia. A dimensão do desastre humanitário que assistimos diariamente é incalculável. Os bombardeamentos destruíram infraestruturas de hospitais, clinicas ou centros de saúde. O abastecimento logístico é quase impossível, a falta de materiais e equipamentos é crescente, os cortes na electricidade são frequentes condicionando toda a actividade cirúrgica e de cuidados médicos diferenciados. Os profissionais de saúde que já não abundavam no território são agora um recurso ultra-precioso e vêem-se obrigados a recorrer aos pisos subterrâneos dos edifícios para exercer toda a sua actividade com maior segurança para os doentes. A transferência de uma unidade de neonatalogia para um recém criado abrigo no subsolo na cidade de Dnipro é bem um exemplo desta triste realidade mas um sinal do compromisso dos profissionais de saúde em não abandonar as suas funções mesmo sem condições para as exercer.
É indispensável abrir corredores humanitários sob vigilância de organizações internacionais que permitam a entrada de medicamentos, oxigénio e material médico essencial. É essencial assegurar que estes corredores permitam evacuar feridos graves com necessidades de cuidados de saúde diferenciados noutras instituições ou noutros países.
Precisamos de organizar respostas para as necessidades de saúde que irão surgir a médio prazo numa população fragilizada e sem acesso a cuidados básicos. Os programas de vacinação e vigilância estão comprometidos e o risco de aparecimento de epidemias naquelas populações é enorme.
As organizações internacionais poderão não agir militarmente, mas deverão agir sem hesitações na defesa dos valores da saúde humana, pois, até as Guerras têm limites…

 

Autoria de:

Deixe o seu Comentário

O seu email não vai ser publicado. Os requisitos obrigatórios estão identificados com (*).


Últimas

Geral

opiniao