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Opinião: Razão e destino

25 de maio às 10h57
1 comentário(s)

A razão não comanda a vida. Um dos efeitos mais perniciosos da idolatria racionalista é o da convicção, com força de lei, de tudo, das vidas singulares ao devir histórico, estar submetido a férreas regras de causalidade científica.
Estamos muito longe, desde o diktat cartesiano, das Moirai das tragédias gregas. Tudo sob o sol é regido por determinismos físicos, químicos e biológicos. A vida coletiva dos homens – máquinas pensantes para Descartes ou machines désirantes para Deleuze, mas sempre máquinas – acontece sob o escrutínio das físicas sociais. O homem é uma coisa.
A razão é uma religião fatal. Em nome da qual atrocidades, genocídios, catástrofes encontram sempre justificações faustianas. O Doutor Fausto é, na verdade, a divindade mor do racionalismo.
Marx e Hayek são, nesta sede, gémeos siameses. O materialismo histórico do primeiro – com o elevar da História a ciência natural – é, de um ponto de vista lógico, idêntico ao materialismo económico do segundo – com a Economia a ocupar o lugar da História no Olimpo das ciências.
Para ambos a História, a Vida – e as vidas – são comandadas por leis inexoráveis, auto -existentes, auto-justificadas e auto-referenciadas.
Leis que conduzem, inexplicavelmente, a diferentes Jerusaléms – ainda que o idílico paraíso sem classes do comunismo final seja singularmente afim ao anunciado éden de bem-estar dos mercados sem peias nem freios.
Existiram, existem sempre, heréticos da religião racionalista. Nietzsche e Freud, antes de todos, com as pulsões de vida e de morte a dinamitarem os esquemas lógicos da deusa Razão.
E, discretamente, adversários mortais vindos do próprio campo científico – a astrofísica, a genética e as neurociências.
Não somos máquinas que pensam. Nem algoritmos andantes. Nem peões de um jogo de grandes mestres científicos.
Somos viventes de carne e osso, navegantes em oceanos de acaso e de acasos. Caminhantes de incertos caminhos buscamos – e por vezes alcançamos – o impossível:
Transformar o acaso em destino.

Pode ler a opinião de Manuel Castelo Branco na edição impressa e digital do Diário As Beiras

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1 Comentário

  1. Frate Attento diz:

    Ora nem mais… Tratam-se de sapos. Trata-se de engolir sapos.
    Precisamente por sermos todos viventes de carne e osso, navegantes, por vezes enjoados, em oceanos tumultuosos de acaso e de acasos, bem como caminhantes de incertos caminhos, escapando ao determinismo do preceito religioso e da previsibilidade científica, por vezes buscando e tendo pretensões proibidas no contexto de uma espécie que exemplifica uma repressão tão vincada, por vezes, poderemos ter a pretensão de alcançar o impossível: il fratello proibito del Vaticano.
    Nestas circunstâncias, transformar o acaso em destino pode ter como consequência infinitas mortificações…

    https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/demasiadas-bichas-papa-francisco-tera-usado-um-insulto-para-se-referir-a-homossexuais?utm_source=SAPO_HP&utm_medium=web&utm_campaign=destaques

    Venha daí mais um FRA! Fratelo… Frate… FRA!

    I’m not a robot.

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