Opinião: Quando o artista tem talento… tiro-lhe o chapéu!
Com a expectativa de ultrapassar uma pandemia que não nos quer largar, e acrescidos da necessidade de eleger um novo governo, 2022 começou como “dinâmico” no nosso país.
Deixando de parte os argumentos e apelos de cada partido na campanha eleitoral, e passada que está, olhemos para os resultados.
Independentemente de serem os resultados mais desejados ou não (e para mim não o eram), um facto é que dada a sua expressividade, a sua análise é simples.
A maioria dos portugueses preferiu confiar ao Partido Socialista e ao Dr. António Costa a gestão do nosso País, habilitando-o a que o faça dispensado da necessidade de estar refém de acordos à esquerda ou à direita.
E é aqui que paro para dizer algo que é necessário reconhecer: tiro o chapéu ao Dr. António Costa.
Não porque considere que seja um político de excelência, longe disso, mas sim porque lhe reconheço uma mestria invejável na arte de ganhar eleições e se dúvidas houvesse dos anteriores processos eleitorais, este termina com todas elas.
Este PS de António Costa, mais que um partido que se preocupa em governar, preocupa-se em governar para voltar a ser eleito.
Este era o timing perfeito para converter uma crise política que derivava da não aprovação de um orçamento à esquerda em contexto de pandemia, para eleitoralmente se livrar destas amarras e governar a seu belo prazer.
Se bem o pensou, melhor o executou… e eximiamente o conseguiu.
Não me agrada o resultado, mas não me custa reconhecer a arte quando o artista é talentoso.
Tire-se-lhe o chapéu.
Com os Portugueses a entenderem a estabilidade política como uma necessidade para a recuperação pós pandemia, ela está aí, entregue sobre a forma de uma maioria absoluta que habilita o Dr. António Costa, sem outros condicionalismos, a poder governar única e exclusivamente pela sua cabeça.
“Maioria absoluta não é poder absoluto, é ter condições para governar”.
Não é poder absoluto, mas quase.
Nos próximos quatro anos teremos hipótese de ver qual a capacidade real do Dr. António Costa e do seu governo para nos colocar na senda do crescimento económico e da melhoria das condições de vida de todos os Portugueses.
Ele, com a proposta de orçamento anteriormente apresentada para 2022 (anteriormente chumbada), já disse ao que vinha.
Durante toda a campanha, esse foi o guião.
Mostrou-o e referiu-o constantemente ao longo da campanha.
Agora, com esta injeção de moral, poderá “moldar” um pouco mais ao centro (ou não), mas o compromisso foi assumido.
E chega? Não, não me refiro ao partido político.
Questiono se é suficiente.
A resposta mais certeira parece-me: o tempo o dirá.
Na minha óptica, há muito mais a fazer e muito mais será necessário.
O crescimento económico continua a ser base essencial para que o País se possa desenvolver.
Necessitamos de um modelo económico que nos aproxime de uma Europa à qual temos verdadeiramente que pertencer e não apenas para benefício dos apoios comunitários.
Para servir estes objectivos, o que foi, o que está e o que é proposto fazer, parece-me ainda insuficiente.
O cenário da crise política desapareceu, a pandemia tende no sentido de se encontrar um novo normal.
O cenário parece mais risonho? Sim, julgo que sim.
Ficam, no entanto, desafios a curto prazo que não vão permitir grandes descansos nos próximos tempos.
A recuperação económica, a redução da dívida pública, o investimento proveitoso e justo do PRR, a inflação, a crise energética (a poder agravar com a instabilidade no conflito Ucrânia/Rússia), o possível aumento da taxa de juro por parte do Banco Central Europeu.
Desafios não vão faltar.
Não teve o meu apoio nem tão pouco o meu voto.
Todavia, não sou mensageiro da desgraça e sou consciente que nada ganharei a título pessoal ou profissional com o insucesso da nossa governação.
Dr. António Costa, nos próximos quatro anos não quero tirar o chapéu à sua governação.
Só quero que não nos atrasemos mais numa Europa onde somos cada vez mais a cauda.
Portugal e os Portugueses merecem mais que isso. Muito mais.
*Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.