Opinião: Quando a IA é estratégia nacional

A Suíça, conhecida pela sua neutralidade diplomática, está agora determinada a tornar-se numa potência neutral em Inteligência Artificial. Este não é apenas um discurso político vazio, mas uma aposta séria e estruturada, baseada em factos palpáveis.
O Conselho Federal Suíço apresentou a Estratégia Nacional para a IA, que inclui investimentos de mais de mil milhões de francos suíços até 2028, focados na investigação, educação e no desenvolvimento de sistemas éticos e confiáveis. Instituições académicas como o ETH Zurich e a EPFL lideram este esforço, classificadas entre as dez melhores universidades mundiais na área tecnológica.
A aposta suíça é particularmente forte na regulação ética da IA. O país reconhece que a confiança é essencial, sobretudo num contexto global em que gigantes tecnológicos acumulam poder desmedido. A Suíça pretende diferenciar-se precisamente por aí: sistemas transparentes, auditáveis e respeitadores da privacidade individual.
Mas este foco em ética não é apenas idealismo suíço; é um claro posicionamento económico. O Fórum Económico Mundial estima que a IA trará à economia suíça um crescimento adicional de até 2% ao ano até 2030, especialmente nos sectores da saúde, finanças e indústria de precisão. O paradoxo é delicioso: num país tão ligado às tradições e à estabilidade, é precisamente a inovação tecnológica disruptiva que promete ser o novo alicerce do sucesso económico helvético.
Mas talvez não haja qualquer paradoxo aqui, apenas a confirmação da habilidade suíça de transformar desafios em oportunidades. Para Portugal, onde ainda discutimos se a IA “rouba” empregos, talvez esteja na hora de olhar para a estratégia suíça. Afinal, se até o país dos relógios mais tradicionais já percebeu que o futuro não espera, o que estaremos nós à espera para ajustar os ponteiros?