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Opinião: Primeiro posto, Bissau

02 de julho às 12h31
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Começo hoje a escrever-vos pequenas histórias que me têm marcado desde o ingresso no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 1997. Abro com a Guiné-Bissau (RGB), país irmão, meu primeiro posto e amor para toda a vida.
Cheguei dia 30 de julho de 2000. Trazia bem presente na memória as imagens que correram mundo na então para mim distante RGB: o drama dos dois mil refugiados do Ponta de Sagres, as crianças ao colo de Fuzileiros Portugueses ou o Embaixador António Dias a resgatar o General João Bernardo Vieira, numa Bissau a apenas quatro horas de Lisboa e completamente a ferro e fogo.
Recordo-me como se fosse ontem. Chovia intensamente quando o Airbus abriu as portas e a pista foi invadida por dezenas de transeuntes, que procuravam abraçar familiares e receber jornais lusos. Cá fora estava o meu colega Pedro Carneiro, que me transportou até ao complexo da Embaixada. Durante todo o caminho só pensava “what am I doing here…?”
Descrevo: onze quilómetros do Aeroporto Osvaldo Vieira até à cidade, em trânsito caótico, passando por uma bomba de gasolina pós-apocalíptica e pelo encontro imediato com um carro de combate conakriano, incendiado e abandonado junto à estrada. E logo o Mercado de Bandim, imensa Babel guineense espalhada por quarteirões sem fim onde tudo se compra e vende.
Cheirava a verde e a terra molhada. Olho em volta para um esboço a carvão de uma cidade por reconstruir e apenas traços restam de uma arquitetura ausente, sem cor nem brilho, portas ou janelas. Tinha chegado a África. A este canto de um continente onde perdemos a noção do espaço e de posse.
Rapidamente constato que para muitos o caju e o mango são a única refeição do dia. Nunca faz frio, tristeza talvez, naquele olhar distante que nos diminui, intimida, que nos faz pensar no que realmente importa. Ficamos como os mangos caídos no chão, maduros… crescemos e amadurecemos numa só viagem.
Assim que nos afastamos da capital, os traços tornam-se mais característicos e a paisagem, essa, uma mistura de sensações, cores, magias, recortes de filmes passados, safaris, documentários do National Geographic.
Vou conhecendo Mansoa, Bafatá, Gabu, São Domingos, Bubaque e descobrindo casas e pessoas camufladas nestes cenários, e mais uma vez aquele olhar distante.
Atravesso o rio numa jangada, prolongando estes momentos sem fim…impossível reproduzir tudo isto, nas fotografias que tentei tirar, falta aquele ar que respirei, a sensação esmagadora de espaço, o suor escorrendo nas costas, a sede incrível sem água para beber por muitos quilómetros. Apesar de distante, sinto-me em casa.

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