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Opinião: “Os que não deixam ver”

09 de novembro às 14h04
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A “realidade desfocada” é uma estratégia que constrói uma observação do mundo. As televisões fazem entrevistas, de hora e meia, a um cidadão, e depois retiram, de modo não aleatório, aquilo que desejam informar ou fazer ver. Por vezes surge um minuto menos feliz. Frequentemente surge sem contexto uma frase sem nexo. O arauto destas estratégias infames é hoje Ricardo Araújo Pereira, que copia programas igualmente azedos e mal dizentes que vê nas televisões inglesas e americanas, e converte em vergonha muitos cidadãos. Pode acontecer a todos nós. Ele vasculha de modo hediondo as mais ridículas e mais pobres insinuações, depois engrandece-as e apimenta-as para que ganhem tom de graça e não de infâmia. Mas o que faz é difamação sem contraditório, é perfídia sem hipótese de resposta. Para mim, o programa de Ricardo Araújo Pereira é lixo.
A realidade deturpada é a construção de factos sem sequência, sem sustentação, sem informação, que tem por fim apoucar ou denegrir alguém. Isto tem sido feito pelas televisões com Donald Trump, com Milei (Argentina), com AMLO (México), com toda a direita internacional, numa diabolização cega e coordenada para perpetuar culturas específicas que detestam contraditório. As teses da alteração climática, da vacina sem mácula, da ciência médica baseada em evidências, da importância dos guidelines, da indiscutibilidade das estatinas e dos anticoagulantes, assumem que o contraditório é indefensável, que os que ousem dizer algo diferente são “terraplanistas”, acham que a maçã cai em direcção à Lua.
A verdade inteira, é uma complexidade dinâmica, e vamos percebendo que as opções pelos carros eléctricos, quando os diesel tinham atingido uma qualidade incrível, é discutível. Descobrimos que os moinhos de vento, afinal, têm grandes defeitos. Vejam o violento documentário de Michael Moore sobre a energia dita verde.
A estratégia foi construir uma linguagem avassaladora sobre as opiniões divergentes, de preferência acabar com elas construindo a tese das fake news. Assim se produziram leis contra a linguagem, contra a opinião, e vozes ditatoriais contra as ideias dos outros. Imparáveis, porque tinham o poder na mão, foram agregando mais limitações à oposição, e às ideias, que na dinâmica se opunham “à sustentabilidade, à modernidade”, às “certezas científicas”.
A dinâmica humana baseia-se na dicotomia da acção e frenação. É imperativo que haja obstrução, caminhos difíceis para cada evolução, e sobretudo que a reflexão nasça de se ouvirem opiniões divergentes, por mais absurdas e tontas que pareçam.
Trump na SIC e TVI, é uma encomenda televisiva da europa que nos perpétua as diabruras, os processos, as inúmeras atoardas e frases descontextualizadas que os comentadores e as televisões desejaram. Construída a imagem de um canalha, os portugueses ficaram surpresos porque o homem arrasou nas eleições. A América é um mundo livre e aberto, carregado de canais divergentes de informação, carregado de opiniões, e dessa proliferação o povo decidiu escolher quem? Pois o monstro que nos venderam. Só que a maioria dos americanos não se engana, sabe o que quer, escolhe com conhecimento abrangente dos factos e acontece que Trump, como todos os outros, diz coisas certas, tem políticas inteligentes, tem discursos interessantes (se não truncados e cortados às fatias) e afirma soluções que a maioria deseja ver aplicadas. Os que nos escondem a verdade, os comentadores lixo que nos ilusionam com o canalha, deviam demitir-se, deviam explicar-se. Trump teve maioria de votos negros e hispânicos, capitalizou metade das mulheres. O que diz o comentador Santos Silva, um dos tais impolutos? “o voto em Trump capitaliza o voto branco e machista” – mais uma vez o aldrabão, o falacioso, não se chama Trump.

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