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Opinião: Os paradoxos da imigração

29 de julho às 10 h43
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A imigração é um tema polarizador que revela as profundas diferenças ideológicas entre a extrema-direita e a extrema-esquerda. Enquanto a extrema-direita se centra nas perceções de ameaça e defesa da identidade nacional, e nas questões de segurança, a extrema-esquerda enfatiza os direitos humanos, a inclusão e a solidariedade, no quadro de uma luta contra o capitalismo global. A imigração é vista pela extrema-esquerda como uma oportunidade para relançar a luta de classes, num quadro ideológico onde as grandes causas ligadas à economia e ao trabalho se perderam ou diluíram em questões de sociedade excessivamente fraturantes. A extrema-direita dissemina a crença de que os imigrantes competem com os cidadãos nacionais por empregos, pressionando os salários para baixo e aumentando o desemprego entre a população local. A imigração é ainda utilizada para promover uma agenda de soberania nacional securitária, enfatizando a importância do controle rigoroso das fronteiras e das políticas de imigração estritas.

Estes pontos de vista tão contrastantes levam a propostas de políticas muito diferentes e a debates acalorados sobre a melhor forma de gerir os fluxos migratórios. Todavia e, reconheçamos, por pressão da extrema-direita (não necessariamente pelas melhores razões), finalmente o tema da imigração veio para o centro dos debates da atualidade: a população está a envelhecer, o que cria uma necessidade de jovens trabalhadores para sustentar a força de trabalho e contribuir para os sistemas de previdência social.

A imigração está a ajudar a mitigar os efeitos negativos do envelhecimento populacional, da falta de mão de obra e do desequilíbrio no saldo entre contribuintes e beneficiários do estado social.

Estranhamente, ou não, o mundo empresarial está muito mais próximo ou os seus interesses são muito mais convergentes com os pontos de vista da extrema-esquerda, para a imigração. Empresas de setores como agricultura, construção civil, hotelaria e serviços frequentemente dependem de trabalhadores imigrantes para preencher vagas que podem não ser atraentes para a população local devido a condições de trabalho ou remuneração. Uma imigração mais intensa e menos regulada ajuda a mitigar as pressões sobre o mercado de trabalho e sobre os salários. A situação que se vive no sudeste alentejano evidencia bem este ponto de vista. Ao mesmo tempo, as empresas de tecnologia e setores altamente especializados, necessitam e procuram talentos internacionais para preencher lacunas de trabalhadores e competências que não podem ser supridas apenas pela força de trabalho local. Note-se que as políticas ficais e os baixos salários, ao contrário, estão a expulsar os jovens talentos nacionais. Profissionais altamente qualificados como engenheiros e cientistas, estão a abandonar o país em busca de posições muito bem remuneradas em outros países, que oferecem ainda uma fiscalidade mais atraente.

Sabemos hoje da teoria e da realidade que a imigração em massa e desregulada pode sobrecarregar os sistemas de assistência social, de saúde, de educação e de habitação, dificultando uma provisão adequada de serviços dignos para todos os residentes, incluindo imigrantes. A chegada de um grande número de imigrantes está a aumentar a competição por empregos – um jovem nacional leva 5 vezes mais tempo a encontrar emprego do que um imigrante – habitação e serviços sociais, criando ressentimento entre a população local e potencialmente levando a xenofobia e discriminação. Quem ainda não percebeu que a crise na habitação se deve, em larga medida, a uma enorme escassez de uma oferta em regressão, face a uma procura potencialmente explosiva, acelerada pela chegada de centenas de milhares de imigrantes, obviamente nunca saberá como encontrar solução.

E finalmente, o óbvio: pode não haver mão de obra suficiente para construir as casas programadas no PRR, assim como para cumprir os outros objetivos nele inscritos.

O governo tem um longo caminho a percorrer para ajudar a colmatar estes desequilíbrios, já de si ameaçados por uma enorme mole humana de imigrantes ilegais e indocumentados, em situação de extrema pobreza, ao mesmo tempo que a falta de mão de obra, em muitos setores de atividade, continua a limitar a atividade económica.

Provavelmente, a falta de regulação pode não ser boa conselheira.

PS: Ontem à noite resolvi fazer uma incursão pela “night”. Arrependi-me: mal estacionei, deparei-me com 3 sem abrigo (imigrantes) a dormir na portaria de um prédio…

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1 Comentário

  1. Ze da Gandara diz:

    Sôdôtôr, não são os emigras do Bangladesh, do Paquistão ou mesmo da Índia (para nem citar os do Brasil) que são os únicos culpados da falta de habitação (embora também contribuam para isso, dada as hordas de estrangeiros que aqui aterraram). Se saísse mais da sua madraça e da sua bolha, veria muito mais coisas do que os referidos três sem-abrigo estrangeiros de que se queixou… Veria por exemplo, que a maior parte das casas nas principais urbes e praias cá do sítio que saíram do mercado de arrendamento a bem ou a mal, foram parar ao Alojamento Local ou foram vendidas a estrangeiros endinheirados (fenómeno que não tardou a ser potenciado pela especulação imobiliária natural (em vários níveis) e agravada pela política macroeconómica híper-expansionista do BCE – que é no fim de contas, quem manda na UE), estrangeiros endinheirados estes (muitos deles reformados ou a viver de rendimentos) que por muito caro que paguem por meia dúzia de tijolos mal acabados por cá (vêem-se verdadeiras aberrações atentatórias da lógica por aí), pagarão sempre mais barato aqui por uma casa (mesmo do tipo casebre) do que no país deles, beneficiando em paralelo de um custo de vida bem mais baixo que no respectivo país.
    Veria também que esses emigras que vêm para cá prestar trabalho braçal, acabam por se amontoar aos 30 e 40 num simples apartamento T2, o que levanta outras questões (salubridade) que ninguém quer ver (por exemplo, se saísse da sua bolha, certamente teria um pouco mais de consciência do ressurgimento (via importação de casos activos) em Portugal de doenças já consideradas erradicadas em tempos.
    Se saísse mais da sua madraça, veria também que já cá temos cidades que foram transformadas num parque temático a céu aberto e que se encontram nominalmente entregues ao turismo, tendo sido a população aí residente, escorraçada para as áreas suburbanas… Veria igualmente que se calhar o turismo de massas decalcado do turismo do garrafão de 5 litros que se atraiu, é uma verdadeira praga que deveria ser combatida e que se fosse combatida, se calhar não seria necessário construir um novo aeroporto…

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