Opinião: O vinho deste lugar sereno como verso
Enquanto a Europa se prepara para a “Guerra”, aqui, na região do Cabo Ocidental, a antiga videira Chenin Blanc, de origem francesa, é elogiada pelo seu autêntico lugar e antiguidade ‘vintage’. A paisagem que a rodeia é deslumbrante e pitorescamente selvagem, isolada e pintada por afloramentos rochosos e campos de chá rooibos, montanhas escarpadas e vizinhos distantes pela brisa do mar.
É aqui, nesta região alucinante de Stellenbosch, situada no meio do nada onde Chris, e a sua esposa Suzaan Alheit, cultivam néctares de excelência a 540 metros de altitude acima do nível do mar e a quase cinco horas de carro da sua adega de família.
Nas vinhas de Arbeidseind e Oudam, plantadas entre 1974 e 1989, próximo do Mar, encontram-se velhas arbustivas cultivadas em areia vermelha sobre argila, também de cor vermelha, que emprestam aos seus vinhos a “clareza de sabor, mineralidade terrena e uma certa pujança natural” do lugar.
Em cada colheita, os Alheit reafirmam a identidade secular e extraordinária da paisagem que Camões observou: “Queremos proteger a herança dos vinhos do Cabo, por conseguinte, praticamos a vinificação simples e cuidadosa, sem leveduras, nem enzimas, acidificação, enxofre, novos barris, etc. Trata-se de um princípio “fundamental” a que a família aderiu: “Não podemos, em boa consciência, falar sobre a importância do lugar se estivermos a manipular o vinho”. E a viagem até Arbeidseind e Oudam vale por cada quilómetro percorrido!
Recentemente galardoado pelo conceituado guia 2024 South Africa Wine Report, elaborado meticulosamente pelo britânico Tim Atkin, o vinho Alheit Alheit Vineyards Nautical Dawn Chenin Blanc, colheita de 2023, foi considerado “um vinho perfeito em todos os sentidos”. No conjunto dos 2, 259 vinhos, numa gama de colheitas de 2015 a 2023, 217 vinhos receberam pontuações entre 95 e 99 valores, o que na opinião de Atkin é indicativo de que “a África do Sul está a produzir indiscutivelmente os maiores vinhos da sua história”.
De facto, existe algo muito especial neste lugar “sereno como verso”; nas encostas das montanhas do Cabo, marcado pelo isolamento, videiras antigas, pouca precipitação, e solo vermelho. Será melhor que a materialização do infinito como o Mel de Federico Garcia Lorca, esse poema épico do amor, e licor divino de humildade?