Opinião: O senhor fotografia

Desde que surgiu a imagem fotográfica, especialmente a televisão, que as pessoas iniciaram um processo de desaprendizagem, uma espiral descendente acentuada pelas redes sociais. Já pouco se lê, ouve-se cada vez menos e estamos quase mudos.
Estamos constantemente sentados à espera das imagens televisivas, que são vistas de relance porque temos o telemóvel na mão e estamos sempre a deitar o olho às notificações de mais stories no Instagram, reels no Facebook e vídeos no TikTok.
Diz-se que uma imagem vale mil palavras, mas verdade seja dita que quando Trump é entrevistado, olhamos em seu redor à procura de Elon Musk, ou tentamos perceber o que naquele dia está escrito no boné que usa. Quando surge Putin a falar na televisão, tomamos mais atenção ao candelabro da sala majestosa e ao tamanho da bandeira russa. Mesmo quando há reuniões alargadas de líderes, queremos perceber quem apertou a mão a quem, como estão vestidos (Volodymyr Zelenskyy sabe bem ao que me refiro). Enfim, aquilo que é dito passa para segundo, terceiro ou quarto plano.
Há uma excepção, que merece uma honrosa homenagem. Não é preciso as pedras do rio chorarem para ouvirmos as palavras de Dmitry Sergeyevich Peskov, o diplomata russo que é o porta-voz do presidente russo Vladimir Putin desde 2012. É rara a captação de imagens dele ao vivo, e muito menos a falar ao mesmo tempo. Não, ele comunica por palavras, e só sabemos que são dele porque, em segundo plano, surge uma foto sua, quase sempre a mesma. Assim conseguimos tomar a devida atenção ao que diz, pois a novidade são mesmo as palavras proferidas.
Dmitry Peskov, com esta forma de comunicar, até conseguirá o feito de explicar conceitos. Os conceitos, não nos esqueçamos, são obra da palavra, e não das imagens.