Opinião: O renascer da capital da saúde
A perda de importância da cidade de Coimbra no panorama nacional que se verificou ao longo dos últimos anos é uma realidade inegável. A cidade está envelhecida, não apenas na sua estrutura fisica mas sobretudo na mentalidade das suas gentes. A mudança recente verificada nos destinos de governação autárquica, foi um sinal claro de que a população desejava um novo rumo para a sua cidade, mas neste momento de partida para um novo ciclo, impõe-se que as mudanças ocorram não apenas nos protagonistas do poder, mas sobretudo no conteúdo do projecto e na ambição que se deseja para os destinos do concelho.
Coimbra não pode resumir-se a uma cidade vocacionada para a Saúde, mas deve assumir o Polo da Saúde como uma área estratégica para o seu desenvolvimento e afirmação nacional, deve tentar reerguer um dos sectores que durante anos foi um estandarte da cidade na sua exposição ao pais e ao mundo. A afirmação de Coimbra na área da saúde deve ser encarada de forma muito mais abrangente, ultrapassando o simples desenvolvimento das unidades prestadoras de cuidados de saúde.
Há vários vectores essenciais nesta estratégia:
a) A promoção e desenvolvimento das escolas de saúde existentes em Coimbra que incluem a Faculdade de Medicina, a Escola de Enfermagem e a Escola Superior de Tecnologia da Saúde. Desenvolver estas escolas e promover fortemente a sua imagem é uma forma de captar novos alunos, potenciais futuros habitantes desta cidade, se nela encontrarem condições para desenvolver os seus projectos profissionais.
b) O desenvolvimento de uma estratégia para o fortalecimento das unidades hospitalares prestadoras de cuidados de saúde do SNS. Com o modelo actual do Centro Hospitalar e Universitário ou com outro modelo qualquer, há que reforçar a capacidade assistencial dos Hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Restaurar a importância do Hospital dos Covões na prestação de cuidados de saúde, independentemente das valências clinicas que ali venham a ser colocadas, é algo que urge fazer, não apenas no interesse das populações, mas também para a defesa da imagem da Cidade a nivel nacional.
c) A elaborarão de um plano de acessibilidades às principais unidades hospitalares, que inclui não apenas boas vias de acesso mas também capacidade de estacionamento e transportes publicos. O plano de desenvolvimento do SNS em Coimbra, que inclui a criação da nova maternidade e as novas instalações do IPO não pode ignorar estas dificuldades.
d) A criação de uma rede de Centros de Saúde articulada entre si e capaz de dar uma resposta efectiva às reais necessidades dos seus utilizadores. Um fortalecimento dos cuidados de saúde primários, reforçando a sua capacidade e as suas instalações irá descongestionar o recurso excessivo às unidades hospitalares, permitindo prestar cuidados de saúde de maior proximidade. Cabe também ao poder autárquico, exercer uma magistratura de influência junto dos orgãos de soberania que tutelam as respectivas pastas governamentais.
e) A potenciação e desenvolvimento do Instituto Nacional de Medicina Legal, cuja presidência tem estado nos ultimos anos em Coimbra, permitirá reforçar a afirmação nacional de Coimbra como referência nesta área de conhecimento.
f) A potenciação e promoção das Unidades de Saúde Privadas existentes na Cidade, que pela sua excelência clínica se tornaram referências a nivel nacional e trouxeram à cidade doentes de todo o país. A História, e a actualidade da Medicina privada em Coimbra, demonstram bem que a cidade tem o capital humano e tecnológico necessário para não precisar de ser dominada por grandes grupos empresariais com sede noutras cidades.
g) A promoção de um cluster empresarial e de desenvolvimento tecnológico na área da saúde no concelho de Coimbra. Coimbra reune todas as condições para liderar o desenvolvimento deste cluster empresarial. Possui já várias empresas entre as referências nacionais nesta área como a Bluepharma na industria farmaceutica, a Plural no retalho de medicamentos, a Medicine One nos softwares informáticos de unidades clinicas, a Take the Wind nos programas de formação na área da saúde, entre tantas outras. Representam um potencial de criação de milhares de postos de trabalho e a exportação de conteúdos cientificos para todo o país e para o mundo.
h) A criação, no executivo autarquico, de um sector dedicado à saúde no concelho, capaz de fazer os rastreios epidemiológico e a análise do estado geral de saúde das populações. Urge criar uma estrutura capaz de elaborar um conjunto de medidas com vista à promoção de boas práticas da saúde junto das populações que envolvam a alimentação, a pratica desportiva, o planeamento familiar, a saúde mental, capaz de, em conjunto com outros departamentos e com outras instituições, analisar a qualidade do ar e das águas da cidade, os seus niveis de ruído, etc.
Não há mudanças sem vontade, nem se alcançam resultados sem trabalho e resiliência. Coimbra pode, e deve, reerguer a ambição em liderar o país na área da saúde, se para tal poder contar com o empenho de determinação de todos os seus protagonistas. A população do concelho irá ficar orgulhosa, e sobretudo muito grata.
Parabéns, subscrevo na integra.