Opinião: O poder ganha-se ou perde-se?
Não sei qual é a resposta à pergunta do título desta crónica. Do meu ponto de vista, como cientista, académico e homem que procura o conhecimento, aquilo que faz sentido obtém-se a partir da troca de argumentos, do debate e da disputa de pontos de vista: ganha-se, portanto. No entanto, olhando para o comportamento dos partidos, e considerando que as pessoas que os representam são bem mais inteligentes e experientes do que eu, o poder deve ser uma coisa que se perde. O que a oposição tem de fazer é criticar, dizer mal de tudo e esperar que o poder lhe caia no colo, por desgaste de quem no momento assume a gestão local ou nacional.
O exemplo do PSD é bem representativo disso mesmo. As escolhas para as autárquicas não se baseiam em programas, num passado de intervenção local ou em aspetos ideológicos (com os quais o partido se identifica), mas antes em notoriedade e na perceção que o líder do partido e o seu coordenador autárquico têm da capacidade, mais ou menos inventada, do “escolhido(a)” para ganhar a eleição. Porque se não ganhar, é a liderança que está em causa. Por exemplo, numa recente entrevista, José Silvano – o homem que decide os candidatos em função de sondagens secretas – afirmou que o PSD tem de ganhar Lisboa, pois, caso contrário será uma estrondosa derrota do partido que colocará em causa Rui Rio. Portanto, os eleitores de Lisboa não são convidados a decidir tendo por base propostas programáticas, projetos, soluções para problemas e uma visão de futuro, mas antes são colocados perante um simples dilema: ou elegem Carlos Moedas, salvando assim Rui Rio, ou não o elegem e condenam Rio à condição de ex-líder. Ou seja, Carlos Moedas é subitamente transformado num bode expiatório do futuro de Rio: se ganhar, então era um excelente candidato, como todos já tinham antecipado; se perder, não era assim tão bom e, afinal, por sua causa a liderança do PSD ficou em causa. Num momento de insensatez e total desnorte, o PSD desmerece o seu próprio candidato, retira o foco daquilo que o podia fazer ganhar a câmara, que é justamente o programa e dinâmica que eventualmente pudesse apresentar para atrair eleitores de todos os quadrantes políticos, para reduzir o seu público aos militantes do PSD interessados em manter ou afastar Rio. Para os dirigentes políticos que pensam desta forma, o poder não só se perde, como também se perde aquilo que faz algum sentido na política: querer mudar o mundo, liderando os seus concidadãos numa visão de médio e longo prazo e numa dinâmica de transformação (“… havemos de construir o país que desejamos”, dizia Francisco Sá Carneiro no III e IV Congressos de Leiria em outubro de 1976 ).
Em Coimbra, a candidatura do PSD, quero dizer, a candidatura em que “participa” o PSD mas que não é do PSD, mas antes de um conjunto de partidos que inclui estruturas com grande representação nacional e local como o NOS, o RIR e o VOLT, ainda não tem programa. Não tem, de facto, mas como também já deixou de ser uma dessas candidaturas que eram para segurar Rui Rio (parece que as sondagens secretas deixaram de ser tão positivas e o melhor é não fazer depender o líder de resultados que parecem óbvios), o candidato, José Manuel Silva, pode agora aproveitar para definir um programa diferenciador e mobilizador. Mas tem de o fazer até setembro de 2021, o que parece que não está nada fácil.
Também gostaria de falar da Amadora, local em que uma pretensa “notoriedade” da candidata e do seu mandatário foram as razões da “escolha”, abandonando assim a opinião de Francisco Sá Carneiro que dizia, há muito tempo é certo: “… mais do que doutrinar, devemos levar as pessoas a pensar e a discernir”.
Portanto, o poder perde-se e quem está por perto apanha-o. Parece ser essa a conclusão.
No entanto, o país está há muito tempo numa trajetória descendente. Não cresce, mas antes atrasa-se relativamente aos seus parceiros da União Europeia, estando muito perto do final da lista em termos de PIB e PIB per capita. Se calhar isso tem a ver com a falta de exigência dos portugueses, nomeadamente quando são chamados a eleições: em vez de escolherem um futuro para si como sociedade e comunidade, votam para definir o futuro do líder A ou B. Como dizia Ricardo Araújo Pereira: “é ver isso”.