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Opinião – O Natal e as “Cidades Luz”

06 de dezembro às 13h53
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Este título e respetiva crónica são inspirados por uma recente viagem a Paris, a denominada “Cidade Luz”, epíteto que lhe foi atribuído por, fundamentalmente, duas razões de ordem histórica. A primeira, de caráter material, por ter sido uma das primeiras cidades do mundo a adotar a iluminação pública em grande escala, no final do século XVII e primeiros anos do reinado de Luís XIV, conferindo mais segurança e conforto à vida noturna parisiense, realçando a beleza de algumas artérias e edifícios da, já então, grande urbe europeia, dados os efeitos visuais que a luz emanada dos primeiros lampiões públicos (inicialmente equipados com velas ou tochas de sebo) passou a criar nas ruas da cidade. A segunda, de caráter mais simbólico, mas com tradução material importante em termos de desenvolvimento das sociedades humanas, surge algumas décadas mais tarde e está ligada ao nascimento em França do movimento intelectual conhecido por Iluminismo, que, tornando-se popular no século XVIII, atribuiu a este um outro epíteto, o “Século das Luzes”, pois privilegiava o primado do uso da razão sobre a fé como caminho para a prosperidade humana, aplicando a crítica racional a todos os campos do saber, dessa forma rompendo com os fundamentos antes preconizados pelo período histórico conhecido como Antigo Regime.

Naquela visita a Paris, em meados de novembro passado, lá estava a cidade luz em todo o seu esplendor, já reforçada pelos milhões de pequenas lâmpadas coloridas assinalando a proximidade do Natal, com ruas e edifícios engalanados para que os parisienses e os milhares de turistas que diariamente percorrem a capital francesa sintam o conforto e o espírito natalício, e, obviamente, se motivem ao consumo, pois para além da responsabilidade das autoridades municipais nas ornamentações urbanas, não há superfície comercial, desde a mais pequena à maior, que não tenha a sua própria decoração, hoje com recurso a avançadas tecnologias de animação (espera-se que energeticamente eficientes e amigas do ambiente também) que prendem a atenção de miúdos e graúdos, imbuindo todos da magia da época mais bonita do ano nos países ocidentais.

Precisamente, nos dias de hoje e como se vem acentuando nos últimos anos, são agora muitas as cidades, também aqui das maiores às mais pequenas, que se pretendem afirmar como “cidades luz” – neste caso, cidades com as mais atrativas luzes e decorações natalícias, para nosso encanto, para encanto de residentes e turistas e apelo ao consumo. Aqui mais perto temos assistido ao fenómeno de liderança que a cidade de Vigo, na Galiza, vem assumindo a cada quadra natalícia. São muitos milhares os portugueses que ali se deslocam (quem de nós ainda ali não foi?) desde que aquelas iluminações e decorações são inauguradas, terminando esta “epopeia” de visitação apenas no final das festividades espanholas, que se dá no Dia de Reis, como se sabe. Em Portugal não somos diferentes, é ver cada localidade, de norte a sul, do litoral ao interior, a disputar o título da mais natalícia de todas. Foi encontrado mais um filão para o mercado de eventos e animação turística, nomeadamente a nível autárquico. E ainda bem!

Aqui chegados, quero dizer que sou totalmente favorável a estas dinâmicas, pois ainda que tenham atualmente um cariz excessivamente comercial, torna-se necessário animar o comércio local, apoiar as empresas, o emprego e a produção, de preferência a nacional e respeitadora das novas e necessárias tendências de um mercado sustentável e respeitador dos recursos naturais. Do lado das pessoas, é reconfortante o encantamento da época, claro, num mundo que continua muito tenso a vários níveis, mas deveríamos também consciencializar-nos para um consumo responsável e respeitador do ambiente, com mais razão e menos emoção na hora de comprar. Por um planeta luminoso todo o ano, durante muitos e muitos anos. Feliz Natal a Todos/as!

Autoria de:

Redação Diário As Beiras

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