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Opinião: O mundo O2O

12 de fevereiro às 09h01
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É a abreviatura da expressão “online to offline”, que significa transformar ações online em serviços offline, que se materializam num processo inovador de estratégia de vendas, ao integrar os canais virtuais e as lojas físicas, em ordem a proporcionar uma experiência de compras omnicanal, também designada por phigital. É um modelo de negócio digital, iniciado em Silicon Valley, nas chamadas viagens partilhadas e desenvolvido pela Uber ao utilizar telemóveis e carros pessoais para alterar a forma como as pessoas se deslocavam nas cidades nos EUA, e seguidamente em todo o mundo. A Uber ( 2009 ), foi a primeira empresa digital a ter uma visão clara das imensas potencialidades do negócio O2O, o que originou um novo conceito de transporte, que se verte num aplicativo utilizado pelas pessoas, e que se traduz uma alternativa a algo já estabelecido: os táxis. As vantagens do aplicativo viabilizam preços mais baixos e atrativos, carros novos e frequentemente higienizados, possibilidade de utilização do ar-condicionado, assim como a capacidade e habilidade dos motoristas para desenvolverem um atendimento mais personalizado. Os responsáveis pela criação do aplicativo são Travis Kalanick e Garrett Camp, que se encontraram em Paris, em 2009, e que, ao sentirem dificuldades em encontrar um táxi, devido ao frio e à neve, impulsionarem a criação de um novo tipo de serviço, associado ao uso do smartphone, para requisitar um carro particular.
Estes tipos de negócios expandiram-se de uma forma rápida nos últimos anos, ao ponto de atualmente a economia digital permitir que os clientes comprem os produtos pelo site e se abasteçam, por exemplo, numa loja física. É um negócio que exige engenho e talento para atrair e fidelizar os clientes, além de facultar e melhorar a sua experiência e reduzir os custos logísticos, possibilitando, deste modo, uma gestão mais eficiente dos inventários. Também, a iFood, a Booking, etc, entre outras empresas tecnológicas, aprofundam a experiência do cliente em ambiente digital, o que proporciona maior conhecimento, aprofundamento e conexão da relação. Esta, por sua vez, oportuniza o acesso a uma volumosa e infinita qualidade de dados. Adicionalmente, como a interação é mediada pela tecnologia, esta acaba por desempenhar, objetiva e definitivamente, um papel crucial no mundo online e offline, sendo importante, neste ambiente, explorar o papel deste fenómeno, e, em simultâneo, entender os seus impactos no dia a dia.
Com efeito, o modelo O2O iniciou-se com as plataformas eletrónicas de transporte, seguindo-se a entrega de comida. Começam, todavia, a surgir outros modelos mais criativos associados a cabeleireiros, barbeiros, manicures e massagistas, que abandonam integralmente o trabalho em lojas físicas, empreendendo as suas tarefas com base em reservas através de aplicações e serviços ao domicílio. Esta filosofia de vida e negócio pode ser extensiva a praticamente todos os serviços, tais como: hospitais, escolas, serviços públicos, etc. Esta influência antevê os inconvenientes da vida laboral, sobretudo, nas cidades de elevada densidade habitacional, com trânsito muito intenso, serviços públicos superlotados, que impulsionam frequentemente o desejo de não querer sair de casa. Não admira, assim, que sejam as empresas chinesas, ao agarrarem os recursos deste modelo, evidenciem uma maior propensão para os aplicar e transformar disruptivamente múltiplas indústrias e setores, relativamente às empresas ocidentais.
A outra face da moeda informa que, para um modelo deste tipo funcionar, é importante a existência de um grupo de trabalhadores pagos à peça, dispostos a trabalhar em condições precárias e reduzidas remunerações. Deste jeito, o mundo O2O traduz uma importante transformação social e comercial, e significa que aquilo que está no centro da Internet é mormente a transmissão de informação para fazer negócios. Com efeito, a resolução dos problemas de forma pragmática, suavizando as demarcações entre o mundo digital e o mundo físico (cenário phigital), apoiam-se no entendimento de que a Internet é mais do que uma tecnologia, mas hegemonicamente um mercado em contínua expansão. Supletivamente, a presença na Internet ajuda a conquistar um mundo de oportunidades. Com efeito, as plataformas de transporte, de pagamentos móveis e de produtos partilhados (e-sharing e e-commerce) acrescentam uma nova e valiosa camada ao nível dos dados. As empresas americanas e sobretudo as chinesas têm, no mundo O2O, um acesso sem precedentes aos consumos e hábitos do mundo real, nos mais diversificados setores. Seguramente, os pagamentos digitais abriram a caixa negra das compras no mundo real, facultando às empresas dados analíticos importantes sobre comportamento dos consumidores, o que é considerado um elemento concorrencial diferenciador, principalmente, quando entrar em cena, de forma mais profunda, a Inteligência Artificial (IA) que necessita de dados abundantes, para fazer previsões, construir cenários e conceber antevisões.
Na era da implementação da IA, o impacto dos dados irá ser, com alta probabilidade, o elemento determinante de hegemonia e competitividade das empresas, seja qual for o setor. A incerteza será permanente, e o processo de decisão na modernidade, além de ser considerado como um alvo em movimento, é também configurada pelo sociólogo Zygmunt Bauman ( 1920-2017 ), professor da universalidade de Leeds e Varsóvia, como uma ideia de modernidade líquida, que significa atribuir à vida moderna a sensibilidade de adquirir diversos estados, cenários ou conjunturas, mas, o que une todas elas, é justamente a fragilidade, a temporalidade, a vulnerabilidade e a tendência constante para a mudança.

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