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Opinião: O maior acontecimento de saúde pública das nossas vidas

22 de agosto às 11h52
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No momento em que se inicia a vacinação das crianças e adolescentes parece útil esclarecer alguns pontos que, porventura, estão menos claros entre as crianças e as famílias.

A obtenção rápida de vacinas eficazes contra Covid-19, a campanha de administração à escala mundial de acordo com uma priorização de grupos de risco, a monitorização de efeitos secundários, a difusão de informação através de peritos, a exposição dos decisores, a cooperação regional e mundial subjacente, não têm paralelo na história da humanidade. A vacinação contra Covid-19 é, à escala nacional e internacional, o maior acontecimento de saúde pública das nossas vidas, uma intervenção tida por essencial para reduzir a mortalidade e a morbilidade e retomar a normalidade da vida económica, académica e social.

As estratégias seguidas para controle da pandemia devem ser discutidas. Mas atingir uma elevada taxa de vacinação em todos os países é, nas palavras da OMS, “a única maneira de ganhar a corrida contra o vírus”.

A vacinação não é obrigatória, entre nós. E neste como em outros campos o assentimento da criança é necessário a partir dos 12 anos. As vantagens da vacinação devem ser difundidas, mas os efeitos discriminatórios do certificado de vacinação não podem ser ignorados

Seguem-se algumas afirmações frequentemente ouvidas:

1. Dada a urgência criada pela pandemia, as vacinas contra Covid-19 estão a ser administradas sem sujeição aos protocolos de aprovação habituais.

As vacinas passaram por várias fases (pré clínicas e clínicas) e são sujeitas a monitorização regular. As vacinas COVID-19 foram desenvolvidas segundo os requerimentos legais exigidos para a qualidade, segurança e eficácia.

2. A vacinação do grupo etário dos 12-15 anos não é prioritária dado que os grupos de risco ainda não estão protegidos.
Praticamente todos os maiores de 65 anos já estão vacinados ou têm pelo menos uma dose. No momento em que escrevo, quase 8 milhões de portugueses fizeram uma dose da vacina contra Covid-19 ( 75,7%), entre os quais 10% do grupo etário com menos de 17 anos. 65% estão completamente vacinados. Portugal é o terceiro país da Europa com mais pessoas vacinadas por 100.000 habitantes.

3. Não me vacino enquanto os países pobres não tiverem vacinas.

A vacinação é desigual no Mundo. O Banco Mundial e a plataforma Covax criaram um novo mecanismo de financiamento que deverá permitir a vacinação de 250 milhões de pessoas nos países pobres até meados de 2022. Mas o grau de realização destas medidas é limitado. A vacinação das populações dos países pobres é uma preocupação humanitária e epidemiológica justa. Sem ela a pandemia não será controlada. A pressão nos governos nacionais e nos organismos internacionais é correta. Mas a abstenção vacinal não tem qualquer efeito prático na ajuda internacional.
4. A vacinação é um negócio.

A obtenção das vacinas para Covid-19 é o resultado de financiamento público, através dos governos nacionais e da Comissão Europeia, por exemplo no caso da vacina da Astra Zéneca, com contributos também de centros de investigação, fundações ou instituições de caridade que apoiam a investigação científica com financiamento público. A Indústria farmacêutica terá contribuído com menos de 3% das verbas globais.

As vacinas pertencem aos cidadãos que as estão a pagar duplamente. Aos governos deve-se exigir uma negociação forte com a Indústria para baixar o preço das vacinas e a ausência de repercussão do esforço vacinal no orçamento global da saúde.

5. Ainda se sabe pouco sobre estas vacinas.

A tecnologia de vacina mRNA é estudada há mais de uma década, inclusive no desenvolvimento de vacinas para Zika, raiva e influenza. Até ao momento foram já administradas 2.500.000.000 doses de vacinas contra Covid-19. A vigilância de efeitos adversos nunca foi tão exigente, tão pró-activa e monitorizada.

6. Há forte evidência de que o risco de COVID-19 grave (hospitalização e morte) é muito baixo em crianças e adolescentes. Os sintomas são habitualmente ligeiros e muito semelhantes aos presentes noutras doenças respiratórias virais frequentes em idade pediátrica.

Isso não impede que as crianças sejam infetadas, adoeçam, por vezes com quadros clínicos graves e espalhem o vírus a outros. Dados recentes dos EUA mostram um aumento de infeções e internamentos pela variante delta do SARS-CoV-2. Foi descrito um síndrome inflamatório, Paediatric inflammatory multisystem syndrome temporally associated with COVID-19 (PIMS-TS) ou Multisystem inflammatory syndrome in children (MIS-C) associado à infeção recente por SARS-CoV-2. Baseado no estudo dos riscos – benefícios o CDC dos USA e organismos similares de vários países e regiões já iniciaram a vacinação deste grupo etário.

7. Os resultados de uma avaliação preliminar, apresentados na reunião do Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) COVID-19 Vaccines Work Group, mostraram que parece ocorrer miocardite e pericardite num número de casos superior ao esperado, embora muito raro, predominantemente em adolescentes e adultos jovens, na primeira semana após a segunda dose da vacina e no sexo masculino.

No entanto a maioria dos casos parece ter manifestações clínicas ligeiras e recuperação completa. O risco de miocardite/ pericardite é seis vezes superior na doença que na vacina. Na posse destes dados a EMA – Agencia Europeia de Medicamentos e a FDA, norte-americana, estenderam a autorização para o uso de emergência de Vacinas contra Covid-19 às crianças entre 12 e 17 anos, considerando que os benefícios ultrapassam os riscos. E os decisores de vários países, entre os quais Portugal, iniciaram a vacinação.

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