Opinião: Natal de 2021
Bem sabemos da angústia que a cordilheira pandémica, nos seus altos e baixos que os gráficos dos noticiários imitam, começa de novo a escurecer os nossos dias, a deixar uns na sombra, outros na penumbra, enquanto outros, inconscientes, saltitam por todo o lado.
Inconscientes porque apenas se vêem a si próprios, num espelho convexo que lhes aumenta aquilo que chamam de “os seus direitos”, mirrando, na face côncava, os outros e esquecendo-se que também eles têm os seus direitos … que eles deveriam respeitar.
Inconscientes porque se acotovelam nas ruas com olhos que só vêem brilho e cor e se esquecem que, de repente, o céu desce e nos embrulha em noites incertas. Lembrar e esquecer são duas premissas que fazem um bolo que alimenta a esperança e desenvolve a sobrevivência, para não se perder a coragem de aguardar a aurora … que chegará!…
E, hoje, é o dia de nas nossas famílias construir um presépio com cada um de nós. É dia de passar a mão pelo rosto das crianças e de as levar a navegar no mesmo rio do amor pelos outros.
Neste Natal quereria encher o coração com a esperança do nascimento de um ciclo histórico de entendimento entre os povos, de repartição dos bens entre os nossos irmãos do globo, de uma atmosfera circular de afectos, de renascimento daqueles lugares onde a alegria do tempo se tem destruído… esperança utópica, mas esperança de descoberta do tanto que nos falta descobrir!…
Que, pelo menos, a palavra mate a sede ao que nos falta para derrubar.
Se nada mais possuis, passa num asilo, passa num hospital, sorri para uma criança e deixa-lhes amor. E se a noite chamar por ti, olha para ela e conversa com uma estrela mesmo com sabor incerto. A nossa existência é tão importante que deveria despertar uma comoção universal e abrir a razão ao mundo para não aceitar tanta miséria, tanto egoísmo e tanta falta de coragem para nos olharmos ao espelho e analisar tanta desigualdade.
E a todos aqueles que não vêem o “bichinho pandémico” a cintilar, faço votos de que passem a acreditar que ele existe e que, infelizmente, consegue cintilar, embora com ausência de luz.
Que cada um de nós nasça neste Natal com a força e a coragem de continuar esta viagem, penosa viagem nestes últimos tempos!… Com a força e coragem de derrubar todos os obstáculos que se nos apresentam nesta “montanha (ou cordilheira) pandémica”, à descoberta da uma saída para este caminho!…
Que cada um de nós nasça neste Natal com a esperança (mesmo que utópica esperança) do nascimento daquele novo ciclo histórico de entendimento entre os povos!…