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Opinião: “Há mar e mar, há ir e voltar”

05 de setembro às 10h46
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Ah, o verão! Essa época mágica em que os emigrantes desembarcam em Portugal como se fossem extraterrestres. A experiência inicia-se logo no tapete de recolha de bagagem de porão quando, no aeroporto de Lisboa, se ouvem altos ecos em português fluente vindos de todas as direcções. Todos nos parecem dirigir a palavra, o cérebro entra em êxtase com o aumento exponencial de processamento de palavras na nossa língua materna e sentimo-nos baratas tontas na tentativa de assimilar todas as conversas, quais comadres viúvas no banco do jardim municipal.

O calor familiar do verão português, a inesquecível temperatura do nosso mar, as suculentas sardinhas, as insubstituíveis bolas de Berlim, as geladas minis e a irradiante alegria de estar com a família fazem com que essas férias sejam um verdadeiro festival de emoções. O fascínio pelas novidades anuais são tema de conversa além fronteiras: a máquina de cortar pão do Lidl, a máquina de sumo de laranja natural self-service do Pingo Doce, o tamanho dos corredores da secção de vinhos que parece aumentar ano após ano, o aumento exponencial do número de silenciosos veículos eléctricos, os concertos e festivais de música por todos os cantos do país, os reclames de televisão cómicos ou até as piadas sobre ananases no Mercadona que demoramos a perceber.

Mas, tal como tudo o que é bom, as férias acabam, e o regresso a Macau torna-se um capítulo à parte, repleto de histórias hilariantes.

No regresso, o cenário é digno de um filme de comédia. As malas a arriscar excesso de bagagem numa mistura caótica de lembranças: um queijo do Rabaçal, uma caixa de queijadas de Pereira e uma de pastéis de Tentúgal, uma garrafa do top de vendas do novo Gin português e, claro, aquele vinho especial que nem o controle de segurança do aeroporto consegue barrar.

À chegada, o desembarque e primeiro impacto, é sempre marcado pela “chapada” de calor e humidade que nos relembra o inevitável regresso à base de trabalho. Pode ser o nosso primeiro regresso ou podemos viver em Macau já há mais de uma década, a “chapada” da chegada tem sempre a mesma intensidade. O choque cultural é sempre real. A adaptação ao ritmo frenético da região é quase uma maratona que não deixa espaço para acertar sonos nem curar o jet lag. O regresso à rotina é também ele marcado pelos primeiros reencontros pós-férias onde as conversas fervilham, oscilando entre orgulhosas partilhas e saudáveis competições.

E assim, entre risos e lembranças, entre memórias e planos, entre os que regressaram e os que ainda estão para ir, vamos deixando as férias para trás e vamo-nos adaptando novamente ao calor, à humidade, ao cantonês como paisagem sonora e ao inconfundível cheiro das sopas chinesas pela manhã.

Mas, no fundo, a cada garfada de bacalhau que trazemos na memória, sabemos que, em breve, o próximo verão estará à espreita, pronto para nos levar de volta ao nosso amado país natal. Entre o choque de realidades e a alegria das memórias, os emigrantes celebram o regresso a Macau, uma casa que, mesmo a milhares de quilómetros de distância, nunca deixa de ser um lugar de sorrisos, amor, histórias e, claro, uma mesa farta de souvenirs de Portugal!

Autoria de:

Francisca Beja

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