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Opinião: Há aí algum professor que queira voltar?

12 de setembro às 11h55
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1 Começo por explicar o título desta crónica. Há um ano publiquei um texto que titulei “Há aí algum Professor?” Entretanto, o atual ministro da Educação, Ciência e Inovação, fazendo jus às competências inovadoras que lhe foram atribuídas, explicou que ia abrir a porta para que professores aposentados pudessem voltar ao serviço a troco de alguma mais-valia. Confesso estar sentado a ver o resultado, mas que estou cético do sucesso da medida, lá isso estou.
2- Em 2023 faltavam 1.200 docentes em Portugal. Quantos faltarão este ano? Seja como for, o ministro da tutela diz que vai reduzir em 90% as carências do ano anterior. Senhor ministro, se não leva a mal, explique por favor como resolve essa equação. Não será com os aposentados que o vai fazer. Será ótimo se o resultado der certo com as previsões e as promessas, mas permita-me que desconfie da bondade dos números.
3- Quando o atual governo tomou posse não faltou quem acreditasse que tinha soluções para atacar o problema que lhe fora legado pelo anterior executivo. E eu, crente na promessa, lembrando-me que foi um ministro do PSD que decidiu diminuir o número de professores no sistema (Nuno Crato, lembram-se?) pensei com os meus botões que, afinal, a onda laranja tinha aprendido com os erros próprios e dos outros e estava pronta para apresentar a solução adequada.
4- No texto que aqui escrevi há um ano lembrei que a Unesco alertara os governos para a crise global de falta de professores. A agência para a educação das Nações Unidas falava na necessidade de se encontrarem 69 milhões de professores no mundo. Ora, satisfeito fiquei com as quase promessas do governo português, exatamente porque mostrava ter condições para encontrar uma solução que iria servir todos os países. Afinal, saiu furada a previsão, a UNESCO não pode contar connosco para ensinar a resolver a carência de docentes.
5- Formar um professor não é coisa que se faça do dia para a noite. Demora anos, no mínimo tantos quantos um curso superior exige. Como alguém dizia, a um professor exige-se o domínio das técnicas e a posse da arte de passar mensagens e isso aprende-se, mas leva tempo. A perda de prestígio social da profissão, os baixos salários, as turmas difíceis, o clima de agressividade em muitos estabelecimentos de ensino, as cargas curriculares elevadas, a falta de outros profissionais que acompanhem os estudantes em áreas como a psicologia ou a ação social, as tarefa administrativas de que os professores se viram titulares- tudo isto ajudou a uma crise universal.
6- Mas… em Coimbra, na universidade e no politécnico curiosamente todos os cursos cuja saída profissional mais adequada é o ensino ficaram na primeira fase da colocação de ensino superior completamente preenchidos. É uma esperança que daqui a três ou cinco anos possamos começar o ano letivo falando de outras coisas e não da falta de docentes. Mas, para já e nos anos mais próximos, têm de ser encontradas as soluções que não deixem milhares de alunos a gozarem os “feriados”. Também no período imediato ao 25 de abril, com o abrupto aumento da escolaridade, foram encontradas soluções passageiras que não lesaram as crianças e os jovens e que permitiram que muitos tivessem acesso ao saber e à educação.
7- É importante, muito importante, que não se lancem anátemas sobre a escola pública, pelo facto de ela não parecer capaz de resolver as suas fraquezas. A necessidade de dar confiança a pais e a alunos e a certeza de que ali estão bem e se formam como cidadãos íntegros, sabedores, curiosos e solidários é urgente. E não tenhamos dúvidas: esta falta de professores vai também chegar aos estabelecimentos de ensino privado, que não terão, a breve trecho, condições para fazerem ofertas que compensem os candidatos. Este é um mal que ataca todos.
8- Terá de ser encontrado o modelo equilibrado de concursos que reflita um mundo que nada tem a ver com o de há vinte ou trinta anos. O que então serviu, não serve agora. O país está diferente, as estradas permitem deslocações rápidas, é verdade, mas cada quilómetro cai no contador do porta-moedas e não se pode (nem deve) pedir aos professores que suportem a estrutura funcional do sistema educativo.
9- Só espero para o ano não precisar de voltar a esta vaca fria.
10- Para terminar. Já vi algumas formas de praxe académica abomináveis. E a procissão ainda só vai no adro.

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