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Opinião: E o pior ainda está para vir!

17 de março às 11h10
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Imaginemos que o presidente da Assembleia da República era, na passada semana, António Almeida Santos ou António Barbosa de Melo. Dois nomes históricos do PS e PSD a quem a nossa democracia muito deve. Imaginemos, ainda, que na primeira fila da bancada do PSD estavam sentados Calvão da Silva e Miguel Macedo e que na do PS estariam Jorge Coelho e Fausto Correia. Alguém imagina o triste desfecho de há dias? Alguém pensa que o país mergulharia nesta crise política desnecessária? Nem pensar! O facto da última moção de confiança ter sido chumbada 47 anos (sim 47 anos!) após a primeira diz muito sobre a excecionalidade e atipicidade do caso.

Para se perceber onde quero chegar, olhemos para os Estados Unidos onde Trump desgoverna. E muito! Ainda assim, o senador Chuck Schumer, líder democrata no Senado, apelou esta semana para a aprovação do Orçamento de Trump, sob pena de paralisar o país e tal servir apenas os interesses de Presidente, Musk e companhia.

Ou seja, os tempos atuais e o Mundo estão diferentes, mas, sobretudo, os protagonistas e atores políticos mudaram muito.

É que antes havia canais de comunicação e mensageiros especiais entre os partidos. Os telefones que estão nas bancadas – e que tantas vezes pela televisão vemos ser usados – não são apenas para pedidos de palavra à mesa. São, em muitas ocasiões, para que os diferentes grupos comuniquem entre si. O parlamento é, por definição, um espaço de confronto, de debate e de negociação. Deve ser vivo e tenso, mas igualmente leal e transparente. Não foi!..

O problema é que os canais de comunicação entre os partidos foram desaparecendo. Entre todos e, em especial, entre os dois maiores do regime. Tudo tresanda a polarização e animosidade. O resultado está à vista: quatro eleições legislativas em cinco anos; a extrema-direita cresceu exponencialmente e as próximas eleições presidenciais estão decididas com um ano de antecedência e entregues numa bandeja a um militar que desconfia do sistema.

A política é uma atividade nobre, quando aqueles que a exercem respeitam regras de urbanidade, dotados de caráter e têm abertura para acolher as diferenças em nome de valores e interesses superiores, que não são os partidários, mas os da República e da comunidade.

Ninguém sabe qual será o resultado das eleições em maio próximo, mas há algo que podemos dar por garantido: o partido mais votado não terá maioria parlamentar. E, salvo se a extrema-direita tiver acesso ao poder executivo, a instabilidade governativa volta a estar na mesa. A menos que haja quem saiba dialogar e construir pontes! Para evitar o pior!

Autoria de:

Ricardo Castanheira

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