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Opinião: E agora?

28 de abril às 10 h04
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Nem todos gostavam de Francisco, nem todos simpatizavam com o estilo nem com a forma como comunicava. E há boas razões para isso.
Era demasiado autêntico, informal, próximo, espontâneo, inesperado e simples. Parece que não via as barreiras, os limites, os perigos, as regras e até, segundo alguns, a tradição.
Nem tudo em Francisco foi bom, perfeito ou acertado, mas foi autêntico, sem maquilhagem, sem operações plásticas, sem medo do que os outros iriam dizer.
Só arrisca tanto quem tem um suporte maior do que o imediato ou o desejo da aprovação de todos. A fonte da força de Francisco não se vê à primeira vista: oração tecida com a vida, sobretudo, dos mais esquecidos e frágeis.
O que mais nos fala dele é a ‘desconstrução’ do previamente estabelecido ou do ‘sempre foi assim’. Em Francisco redescreveu-se Evangelho, a Igreja incarnada, a esperança feita relação. É essa a esperança que Jesus (nos) dá.
Francisco centrou-se nas pessoas, nos samaritados deixados à beira do caminho, nos Tomés que não acreditam na ressurreição, nos leprosos que são deixados fora da cidade, nos Judas que continuam a trair a confiança, nos Pedros que continuam a negar a amizade…
E agora? O que podemos fazer com o seu legado? Agradecer a sua presença entre nós, agradecer a esperança que reacendeu em tantos homens e mulheres, agradecer os seus gestos concretos e as suas decisões corajosas, dentro e fora da Igreja.
Agora temos de rezar para que o próximo Papa continue a ser instrumento de graça e de Evangelho, de esperança e soluções concretas, de sinodalidade e de acolhimento de todos.
Precisamos de um coração com muitas geografias para além da Europa, do umbigo, do estatuto, da imagem, do poder. Precisamos de um homem esperança, um homem compaixão, um homem coragem.
E se tudo isso falhar?! Não há problema porque o nosso centro não está no Papa, mas no Evangelho, não está em Roma, mas em Deus, não está na estrutura, mas nas pessoas.
Não somos cristãos, leigos empenhados, consagrados ou religiosos por causa do Papa, do Bispo ou do Padre. Mas não somos ingénuos e há ‘líderes’ que animam, cuidam e se preocupam com as pessoas e outros que vivem apenas atrás da secretária, das regras e do seu mundo – e isso faz toda a diferença.

Autoria de:

Nuno Santos

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