Opinião – Dos gestos de poder ao poder dos gestos
Talvez poucas pessoas saibam que os cristãos já celebraram a passagem de ano. Ou seja, no dia 28 de novembro começou o Advento e com ele um novo ano – C. A palavra Advento significa vinda, chegada, aproximação… É o tempo que prepara o Natal – o nascimento de Jesus.
Neste tempo parece mais claro que o Céu habita a terra e a eternidade toca o quotidiano… Deus comunica-se inteiro e plenamente numa história de fragilidade e pequenez, não de poder nem de riqueza.
Deus faz-se homem no meio dos homens do seu tempo, habita uma geografia e uma cronologia concreta, ultrapassando-a. Desconstrói as espectativas e a ‘imagem’ que se têm de Deus. O Todo Poderoso está ali, menino frágil e dependente de cuidados.
Cada criança que nasce não só convoca esta simplicidade e fragilidade, como também, reclama mistério e esperança. Há uma vida a germinar que precisa de cuidado.
Entretanto, o Papa Francisco, na sua visita ao Chipre e Grécia, que termina hoje, disse no Palácio Presidencial de Nicosia (Chipre) ao Presidente da República, aos membros do Governo, do Corpo Diplomático, às diferentes autoridades religiosas e civis, e a vários representantes da sociedade e do mundo da cultura: “Alimentemos a esperança com a força dos gestos, em vez de esperar em gestos de força”.
No seu discurso vai insistindo na diferença entre o ‘poder dos gestos’ e os ‘gestos de poder’. O poder dos gestos ‘prepara a paz’ e ajuda a dar passos concretos de diálogo; já os gestos de poder vivem de ‘ameaças de retaliação e das demonstrações de força’.
Este mês e estas festividades trazem-nos a força dos pequenos gestos, dos pormenores que fazem a diferença, das luzes que iluminam as ruas e as casas, da música que alegra os corações… mas também dos gestos de partilha e de generosidade.
Os gestos de poder revelam essencialmente carência afetiva e fragilidade psicológica. A agressividade é própria dos fracos e a arrogância conjuga-se com medo.
Já o poder dos gestos fala de germinação, ligação, cuidado, atenção, entrega, disponibilidade, generosidade… Há gestos que vale muitas palavras, mas, sobretudo, marcam histórias e mudam vidas.