Opinião: Do céu ao inferno
O assunto não é de hoje e a prova disso é a existência do (lamentavelmente) famoso “Clube dos 27”, composto por estrelas da música que, em comum, conheceram a morte aos 27 anos de idade: Janis Joplin; Jimi Hendrix; Jim Morrison (The Doors), Kurt Cobain (Niervana) e Brian Jones (Rolling Stones). Antes e depois dos 27 há muitos outros, confirmando a existência de sérios problemas de saúde mental e consumos excessivos nos meios artísticos.
Atualmente, a internet e a presença digital amplificam tanto os elogios como as críticas que os artistas recebem, colocando-os sob constante escrutínio público. Há uma crescente exposição e vulnerabilidade emocionais. Os artistas e músicos estão frequentemente sujeitos a emoções profundas, fruto de intensas e sucessivas experiências, que, se por um lado, intensificam a expressão criativa, também podem torná-los mais suscetíveis à ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental.
Ao invés do que se possa pensar as indústrias criativas são altamente competitivas, com os artistas constantemente a terem de provar o seu valor. Não existem apenas sucessos e isso não é muitas vezes compreendido pelos próprios e pelo público. Expectativas muitas vezes irrealistas conduzem a stress e esgotamento. Consequentemente, em muitos casos, gera-se instabilidade financeira e, com isso, mais imprevisibilidade, mais ansiedade e insegurança. Uma espécie de “bola de neve” emocional de onde – sem preparação, maturidade e apoios – dificilmente se sai.
Tenho o privilégio de trabalhar numa empresa onde a saúde mental de todos: colaboradores, artistas e criadores é colocada como uma prioridade absoluta. Há programas de aconselhamento e estratégias dedicadas a este domínio. Desde logo, falar deste assunto ajuda em muito a reduzir o estigma em torno da saúde mental e foram criados espaços para discussões normalizadas dentro da comunidade artística.
Ensinar os artistas a conhecer os respetivos limites criativos e a gerirem o equilíbrio entre vida profissional e pessoal é essencial para evitar o esgotamento. Mas Governos, empresas e comunidades devem olhar para a saúde mental (não apenas no meio artístico) como uma prioridade nos nossos dias. A escolas não se podem furtar a este debate e as famílias menos ainda. Não há tabus!