Opinião: Da “Jogada 37” à Economia da Alocação …
As estratégias de aprendizagem em liberdade de ação e raciocínio, como bem demonstra a famosa “Jogada 37” do software Alpha Go, a partir da qual começa a desenhar a derrota do campeão mundial do jogo “Go”, Lee Sedol ( em Março 2016 ), formam apenas o início de uma tendência para o reconhecimento da ascensão de “entidades externas” ao ser humano, capazes de desenvolver planeamento e raciocínio de alto valor cognitivo, numa atividade como o jogo, expressão lúdica mas muito exigente em recursos de conhecimento intensivo.
A empresa DeepMind, entretanto adquirida pela Google, liderada por talentos como Demis Hassabis e Mustafa Suleyman ( autor de “A próxima onda”), mais não fez do que alocar níveis crescentes e adaptativos de software, aportando diferentes estratégias sendo que, em uma delas, a surpreendente capacidade de antecipar a direção do jogo dez ou quinze movimentos antes, se transforma em uma vantagem impressionante de ingenuidade e, talvez por isso, incompreensível ao ser humano, mesmo que um campeoníssimo superdotado em experiência e raciocínio.
Constatamos a passagem de uma “Economica do Conhecimento” em que os resultados se alcançam pelo que se conhece ou sabe, para uma “Economia da Alocação” em que o valor se atinge através da mobilização de recursos algorítmicos dotados de capacidades mas também, e em cada ciclo, de modo mais competente.
Numa lógica evolutiva que se desenha a partir de atividades puramente humanas (pessoais e interpessoais) para atividades híbridas “humano-máquina” colaborativas, usando máquinas ou algoritmos como um co-piloto (Human In the Middle ), até aos Agentes Autónomos de ativação partilhada e realização / produção agêntica (não humana).
Alterações cada vez mais profundas e rápidas, fazem emergir outros Ecossistemas Humano-Técnicos com necessidades de (Re)interpretação e Coordenação dos novos modos de criar e produzir, fazendo uso de “Horizontes Superiores de Cognição” em que a faculdade de Imaginar se deverá desenvolver em “Superalinhamento” ético, moral e jurídico, com as necessidades e possibilidades ajustadas de crescimento dos homens e das organizações humanas.
Não é a hora de amadorismos. A evolução civilizacional, em ritmo de aceleração exponencial determina atos crescentes de “Deep Thinking” sensível, neste momento de transição de industrias de “produção em massa” globalizada, para uma “personalização em massa” descentralizada.
Não seria a primeira vez na história que, civilizações evoluídas se veem incapazes de resistir ao gérmen da sua própria auto-destruição.
Por isso é tão necessário o desenvolvimento das “Ciências da Inferência e da Interpretabilidade” para uma Economia de Alocação, que permita deixar transparentes as “caixas negras” produzidas pelos sistemas e tecnologias de aprendizagem profunda (Deep Learning). Esse esforço continuado permitirá mitigar ou eliminar o aparecimento dos “cisnes negros” que possam resultar de desenhos ou pensamentos, ainda que, não intencionais. No fundo, e tal como na “Jogada 37”, fazer com que os efeitos surpreendentes e positivos possam ser induzidos por práticas de “Alocação” explicável, responsável e … sustentável.