Opinião: Da atenção e… da intenção!

Simone Veil ( 1909-1943 ) escreveu um dia, “a atenção é a mais rara e pura forma de generosidade”. A voragem dos tempos, a instantaneidade dos atos do quotidiano trazidos à colação pelos artefactos tecnológicos do imediatismo como o “Tik-Tok” ou o “Instagram”, remetem-nos para uma reflexão, uma tomada de consciência relativa à necessidade de saber se o livre arbítrio é (ainda) uma faculdade interna ou (como sempre) o resultado da ação do ambiente externo sobre o universo individual e da vida de cada um.
Olhem, como neste exato momento!, são seis horas da manhã e fui interrompido pela mensagem
“Meeting with Fernando Llano – Transhumanism, Vulnerability and Human Dignity” e eis-nos perante inesperada tomada de decisão : continuar a crónica ou, levantar ferro em direção à Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Por puro taticismo, criei o hábito de me expor a domínios do saber que não domino (neste caso de hoje, a Filosofia do Direito) para aí poder mais rapidamente encontrar as minhas vulnerabilidades.
O meeting foi excelente permitindo o confronto com novas dúvidas e a identificação de outras vulnerabilidades. Entre anotações e vários apontamentos (Forward) deixo-vos com algumas das minhas reflexões ex-post :
1 – O perigo semântico da utilização intensiva do termo “máquina(s)”. Efetivamente, quando nos referimos a IA como máquina estamos a perder a expansão da informação e a capacidade de agência devida aos ecossistemas. A IA não é uma máquina em circuito fechado de feedback (ação/reação) mas um organismo/entidade gerador(a) de futuros (feedforward);
2 – A discussão sobre as questões éticas e morais terão de ir além da genética. É preciso atender às responsabilidades das tecnologias de expressão génica (ómicas), proteómicas e mensageiros recombinantes.
3 – A ideia de “Human In the Loop” para significar os desenvolvimentos da explicabilidade e da responsabilidade em ambientes de IA intensiva, só faz sentido se os humanos compreenderem a dimensão ontológica e epistemológica da interação com a “nova espécie”. Caso contrário continuará a valer a máxima do professor João Lobo Antunes : “quem só sabe de Medicina, nem Medicina sabe!.
Desde o Instruct GPT, a versão prévia que viria a originar o “rocket moment” do ChatGPT que os algoritmos começaram a trabalhar em Aprendizagem por Reforço com Assistência Humana. Pois bem, hoje, essas entidades feitas de IA, tendem a necessitar cada vez menos de feedback humano. Podem sintetizar, “imaginar” e comportar-se quase, como “espécies” independentes !. Se ainda não percebemos que essas “personalidades” agênticas passaram além da emoção a ter Intenção, poderemos sempre regressar a Simone Veil e ao valor raro e puro da Atenção.