Opinião: Crónica de uma crise anunciada! (Cristina Azevedo)

Os sinais estavam aí!
A brutal interrupção da produção durante 2020 a nível global provocou a disrupção das cadeias de fornecimento, o aumento da procura de matérias-primas, o aumento dos preços, incluindo dos que têm um impacto mais transversal na vida das empresas e das famílias como é o caso dos combustíveis.
O problema da subida de inflação colocar-se-á com a consequente e acrescida probabilidade da subida das taxas de juros.
A total dependência do nosso país de compras e vendas ao exterior e a extrema sobrecarga das nossas finanças públicas, no que toca ao serviço da dívida, fazem adivinhar tempos muito difíceis.
Como enfrentar mais esta tormenta com um governo naturalmente desgastado por seis anos de poder e dois de uma terrível provação sanitária é pergunta de resposta difícil.
Por outro lado, as eleições autárquicas mostraram um inquietante efeito nos partidos à esquerda do PS. A geringonça, mais ou menos formalizada, não trouxe saúde eleitoral a nenhum dos dois partidos, PCP e BE.
A parada teria de subir, em reivindicações, para justificar a continuidade desta aliança.
Ora António Costa é um socialista moderado e europeísta, consciente das obrigações que assumimos e das ajudas que não podemos dispensar.
Por isso mesmo conseguiu ocupar um espectro político-ideológico que não deixou espaço de manobra nem ao PSD nem ao CDS. Por isso mesmo ambas os partidos se debatem em convulsão interna.
Com um governo desgastado, uma séria crise económico-financeira à vista e com parceiros e adversários em fase de grande instabilidade, seria de esperar a procura de uma clarificação.
A apresentação e votação do OE permitiu esse desiderato sob a mais perfeita imagem de esforço negocial e procura de estabilidade.
A sentença ex ante do Presidente da República acabou por ser o atalho que evitou adicionais e estéreis rodriguinhos parlamentares.
Pode não ter sido assim. Mas se foi faz todo o sentido. E António Costa costuma ler bem os sinais do tempo político.