diario as beiras
Geralopiniao

Opinião: Aristides

12 de dezembro às 13h35
1 comentário(s)

“Se o leitor fosse um cidadão alemão nos anos 30, o mais provável seria ter sido um Nazi.

Não compreender e não conseguir aceitar este simples facto é um erro.

Vivemos hoje em tempos conturbados, mas felizmente bem distintos dessa época repleta de crimes contra a humanidade. Há no entanto algumas assustadoras parecenças.

O rótulo de negacionista tem vindo a abranger cada vez mais e mais pessoas.

Começando por quem não acreditava no vírus, tendo evoluído para aqueles que duvidavam da eficácia da vacina, passando depois por jovens saudáveis que se recusam a tomá-la, chega agora a pediatras e pais de crianças dos 5 aos 11 anos que não aceitem submetê-las a ela.

Aqui lembro-me do poema de Martin Niemöller:

“Quando os nazis vieram buscar os comunistas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um social-democrata.
Quando eles vieram buscar os sindicalistas,
eu não disse nada;
eu não era um sindicalista.
Quando eles buscaram os judeus,
eu fiquei em silêncio;
eu não era um judeu.
Quando eles me vieram buscar,
já não havia ninguém que pudesse protestar.”
Repare-se no cuidado com que José Gonçalo Marques, Coordenador da Unidade de Infecciologia e Imunodeficiências do Departamento de Pediatria e Membro da Comissão Técnica de Vacinação da DGS escreve o seu artigo no Público a 8 de Dezembro, para evitar o rótulo de “negacionista”.

Começa logo pelo título no formato de pergunta, embora seja evidente a resposta, por qualquer métrica que se queira utilizar.

Depois, nos primeiros dois parágrafos, afasta-se imediatamente de qualquer tipo de rejeição da narrativa da DGS ou do perigoso culto do “negacionismo”.

José Gonçalo Marques já não está em silêncio, mas quantos falaram antes e já foram silenciados?

E as parecenças a essa época não terminam por aqui. Já tive o infortúnio de discutir com um ser desumano que me disse na cara que os “negacionistas” deviam ser cilindrados.

Creio que a maior parte de nós é “negacionista”, sendo que a única diferença está em quando iremos dizer basta.

Para o meu pai, médico cirurgião no hospital dos Covões (um dos hospitais que esteve em 2020 dedicado à covid-19 em portugal) essa linha foi traçada bem cedo.

Mesmo tendo tomado a segunda dose da vacina e passado, semanas depois, Por complicacao severa, teve a força física e moral de iniciar uma marcha de Coimbra a Lisboa para alertar a que não se vacinassem as crianças portuguesas. Isto apenas alguns dias depois da sua cirurgia.

Num ano em que é celebrada a vida de Aristides de Sousa Mendes, pergunto-me: o que faria Aristides se fosse vivo hoje?

E o que faria se fosse médico? Ou enfermeiro? Ou empregado de restauração ou de uma sala de espetáculos?

Gosto de pensar que há neste Portugal alguns Aristides anónimos, como aquele senhor que trabalha num restaurante e não me pede o certificado.

Ou como a enfermeira que não administra a vacina a uma criança mas que regista depois que o fez.

Ou como um médico que faz uma marcha contra todos em defesa da saúde das crianças.

Deixo ao leitor um desafio: se quiser começar a compreender e sentir na pele um pouco do que é discriminação, proiba-se de apresentar o seu certificado digital durante uma semana. Se for mais corajoso, experimente um mês.

Garanto-lhe que será uma experiência enriquecedora.

E espero que não venha a ter a oportunidade de a repetir, desta feita não por sua escolha.”

Nota: Este texto é do Miguel Cabrita, meu 2° filho de quatro, e é uma alegria para mim

Autoria de:

1 Comentário

  1. Poortugues diz:

    Como confundir liberdade, coragem e estupidez num único texto.

    Um médico dizer que a vacinação não é eficaz está na profissão errada. Como pode, uma pessoa que tem a ciência a ajudar em tudo o que faz, negar a ciência? A sua liberdade acaba onde começa a dos outros e, se anda um virus, que pode ser mortal, à solta, tem a liberdade de escolher ser ou não vacinado. Não tem é o direito de querer fazer livremente tudo o que os vacinados fazem, se escolher não ser vacinado. E não se trata de discriminação, trata-se de saúde pública.

    Em relação à vacinação das crianças, e sendo um tema mais sensível (embora as crianças já levem dezenas de vacinas atualmente) o único aconselhamento sensato (e que deveria vir de um médico) para os pais é: "informem-se e tomem a vossa decisão em consciência". Tratando-se de uma vacina não obrigatória e, até ao momento, com quase nulas consequências para as crianças, cada pai deve decidir para o seu filho o que achar melhor e não deve ser julgado por isso, seja qual for a decisão.
    Pessoalmente, acho que deveriam vacinar, mesmo o virus não tendo grandes consequências para as crianças, estamos a ajudar a combater um virus que está espalhado por todo o mundo e não estamos a olhar só para o próprio umbigo.

    Já agora, e uma vez que gosta de citar textos e referir personalidades, quem cita ou refere para se referir aos internados em cuidados intesivos nos HUC, dos quais a maioria não está vacinada? É que esses, por estupidez, egoismo ou outra coisa qualquer, estão indevidamente a ocupar camas de hospitais e a ocupar profissionais de saúde. E aqui não é uma opinião. São FACTOS!

Deixe o seu Comentário

O seu email não vai ser publicado. Os requisitos obrigatórios estão identificados com (*).


Geral

opiniao