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Opinião: Amá-la

30 de janeiro às 10h15
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Este texto é sobre a Escola.

Li há algumas semanas um artigo da minha colega brasileira Graciela Taipina sobre o funcionamento social da Escola e de como devemos amá-la.

Lembra a articulista que a Escola é um local onde se junta tudo o que há de bom e de mau nas sociedades, um natural reflexo do que se passa no mundo, chamando a atenção para o facto de ela representar a síntese de todos os grupos sociais incluindo as suas semelhanças e divergências. Sabemos todos que não é na instituição escolar que nascem e se propagam os genes da violência social; pelo contrário, mesmo sendo o espelho da sociedade, ela pode ajudar à construção de um mundo novo, mais humanista e mais respeitador dos direitos e das liberdades dos seres humanos. Por isso mesmo, é preciso amá-la. Vou tomando conhecimento de várias escolas e agrupamentos que dedicam tempo escolar à sensibilização para o combate à violência, nomeadamente a do namoro que preocupa os espaços escolares onde há adolescentes. Um bom motivo para apoiar a educação cívica que mutos gostariam de ver esquecida.

Nada disto é novidade. Tenho aqui falado muitas vezes sobre entorses e maleitas que atacam impiedosamente a Escola portuguesa, coartando aos mais desfavorecidos a educação a que têm direito.

Acredito que este mal-estar incomode o atual ministro da Educação, que se tem mostrado empenhado em encontrar adequados antídotos que, infelizmente, só minorarão o que está mal e não é específico do nosso país. A busca de soluções por parte do ministro Fernando Alexandre é interessante e generosa, mas não resolverá o problema dos muitos alunos sem aulas tempos infindos por falta de professores e a forma como as escolas são olhadas de canto por uma franja substancial da sociedade.
Também já aqui referi que a UNESCO alerta o mundo para os múltiplos problemas da aprendizagem dos cidadãos. Espero que o novo presidente dos Estados Unidos não resolva também fechar as portas do organismo que assume a coordenação mundial da Educação e da Cultura.

Socorro-me agora do Professor Sampaio da Nóvoa, um dos maiores especialistas mundiais na matéria, para respigar a passagem de uma das suas conferências: “houve indiferença em relação aos professores. Iniciativas de atração de jovens para a profissão? Nada. Políticas de formação de professores? Nada. Mudanças no recrutamento dos professores? Nada. Novos processos de indução profissional? Nada. Medidas de proteção dos professores e do seu bem-estar? Nada. Disposições para facilitar e desburocratizar o dia-a-dia dos professores? Nada. Valorização das carreiras docentes? Nada. Incentivos para projetos de inovação? Nada”.

Não se esperem, pois, milagres. Quem ensina são mulheres e homens que dão o seu melhor para que os níveis de qualificação dos mais novos aumentem gradualmente.

Numa época esquisita para o mundo cabe também à Escola afirmar os princípios democráticos que devem suportar uma sociedade sempre renovada..

Voltemos à UNESCO para retermos o importante dado de que no mundo metade dos alunos terminam a escola sem terem aprendido praticamente nada. Não é, de facto, uma boa notícia. Não basta constatar o facto, urge pensar bem no seu significado e encontrar meios e processos que possam diminuir tão preocupante flagelo. Mas cabe aos poderes políticos propor soluções. Não se ponha o ónus desta situação nos professores, mas sim nas políticas que quase só se preocupam obsessivamente com a defesa e segurança, esquecendo que sem gente bem preparada não há futuro para as nações.

O fundamental acompanhamento que as famílias mais jovens-supostamente com mais e melhor instrução- devem dar ao envolvimento escolar dos seus filhos pode ser a pedra de toque para ultrapassarmos muitos dos males que hoje se atribuem à Escola.

A Escola tem de mudar. Não sejamos profetas da desgraça, vamos, sim, amá-la!

Autoria de:

Linhares de Castro

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