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Opinião: A metamorfose da Escola

17 de março às 10h52
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Celebrei o meu 85º aniversário numa escola, o meu habitat cultural e profissional a partir dos 7 anos. O desafio era observar em funcionamento, em ação, uma escola “nova”, que já soube operar a metamorfose necessária, retomando a palavra certa de António Nóvoa. O passaporte para entrar devo-o a uma antiga aluna, Maria Teresa Mendes, que acompanhei na sua brilhante tese de mestrado em que o campo de observação e de análise foi a Escola da Ponte, uma escola pública “disruptiva” e “revolucionária” nascida nos anos 70 e que ficou conhecida aquém e além-fronteiras. Teresa Mendes é gestora de formação e empreendedora na área da educação. É também coordenadora da Associação Florescer e responsável pela gestão do Projeto Aprender em Círculo. A Escola visitada está toda ela embebida deste espírito empreendedor, a começar nas crianças. A Direção tem o dinamismo próprio de quem sabe com precisão o que é preciso mudar e o espírito inovador e agregador de toda uma equipa mobilizada para a mudança. Tudo isto acontece numa escola pública.
A EB1/JI Pedro Álvares Cabral situa-se no Bairro dos Navegadores, Porto Salvo, concelho de Oeiras, um bairro popular com uma grande diversidade social e étnica. A primeira grande virtude desta Escola, visível logo à entrada, é que estamos num verdadeiro laboratório para construir uma sociedade igualitária, sem preconceitos de raça ou de cor. A boa escola é isto, a socialização é perfeita quando sabe construir a igualdade na diferença.
A Teresa veio esperar-nos no exterior da Escola, mas quem nos esperava à entrada e nos conduziu no seu interior foram as crianças. Apresentaram-se, apresentaram-nos a Diretora, as Professoras, mostraram-nos salas e corredores onde decorriam atividades de aprendizagem e finalmente a sala onde pudemos aprender tudo sobre a organização e funcionamento da Escola. Tudo explicado e documentado pelas próprias crianças.
A primeira nota saliente é a felicidade estampada no rosto destas meninas e meninos do 1º CEB, sempre sorridentes e entusiasmados a explicar como aprendem, como trabalham, como chegam à informação, como se organizam em grupos de aprendizagem, em equipas para as atividades de desporto e de recreio, para o escoamento dos lixos produzidos em sala de aula.
A segunda nota é a do sentido de responsabilidade e de participação das crianças nas dinâmicas da escola, com a consciência de que nada se faz sem o seu envolvimento. Nasce aqui o espírito de cooperação e de colaboração, de iniciativa, já com lideranças muito fortes. O diálogo e o debate têm o seu espaço como formas de comunicação civilizadas, onde todos têm voz e todos são chamados a dar a sua opinião. Crianças de origens e etnias diversas convivem num espírito de camaradagem que emociona.
A socialização faz-se numa escola que é o “laboratório” da sociedade que queremos construir. Com este “laboratório”, este Bairro será uma comunidade multicultural e multirracial pacífica e harmoniosa, uma democracia plena em todos os sentidos da palavra. A união, a sintonia e o trabalho em equipa do corpo docente contagiam as crianças. A cidadania não se ensina, acontece.
Finalmente é uma Escola moderna, que sabe enquadrar as novas ferramentas da era digital nos princípios e valores fundamentais. A inclusão é a matriz da Escola e aqui, de facto, ninguém fica para trás. Os mecanismos de organização do trabalho, de entreajuda e de avaliação permanente permitem identificar dificuldades e superá-las com a cooperação de todos, incluindo crianças mais avançadas a trabalhar para superar atrasos e dificuldades dos companheiros. Não vi professoras exaustas nem com sintomas de burnout. A felicidade e sucesso das crianças ilumina os seus rostos.
Esta Escola tem o apoio da Autarquia e tem sido visitada por profissionais das Ciências da Educação, por personalidades e políticos responsáveis nesta área, o que significa apreço e reconhecimento. E significa também que podem ser superadas resistências de outros tempos. Este é o caminho para a mudança necessária.

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