Opinião: A geração charneira

Ultimamente parece que pertenço à geração charneira. Uma geração que tirou os olhos da bola e a deixou cair… agora vai a rolar pela encosta abaixo e alguém terá que voltar atrás para a apanhar e trazer de novo até aqui, onde esteve. Tanto trabalho quando se poderia estar a avançar para o cume. E não parece que seja tão cedo que alguém a apanhe.
O Doutor Jorge Paiva comunicou que vai deixar de enviar os seus postais. Porque são muito louvados e muito apreciados mas pouco seguidos. Como os prémios, muito gostam de dar prémios, não que não sejam merecidos, mas parece que são atribuídos para dar importância a quem os atribui, por aparecer próximo de quem os recebe. Mas o discurso de quem os recebe é ignorado, no caso basta ouvir o apelo do Doutor Jorge Paiva à preservação do arvoredo urbano e à plantação… Cortam-se as árvores e dá-se um prémio… Acredito que o prémio mais valorizado seria ver as árvores a serem preservadas… Deixámos cair a bola…
A semana passada tivemos outro abandono, mais definitivo mas involuntário. O Doutor Ferrand de Almeida, meu também ilustre professor, que todos conhecemos. Figura crucial na existência da única área protegida do concelho de Coimbra, a Reserva Natural do Paul de Arzila. Muitas pessoas estiveram ligadas a esta classificação mas todas reconhecerão que o único nome indispensável foi o do Doutor Ferrand. Tanto pela investigação, incentivo, pressão, nacional e internacional. Em tempos a entidade gestora reconheceu a relevância atribuindo-lhe o nome à sala de exposições do Centro Interpretativo da Reserva Natural. Agora nem uma presença no Funeral… a bola… vai a rolar pela encosta abaixo.
Já com o Arquitecto Paisagista Ribeiro Telles tínhamos assistido a similar, muitas loas, muita homenagem, enquanto se ocupavam em desconstruir as baias de protecção do ambiente que tinha construido. Agora mais uma, com a possibilidade, ad libitum, de construir onde não se podia, apenas com a vontade de qualquer câmara. E a bola rola…
Enquanto se vêem e sentem já resultados de alterações climáticas continua a ver-se tibieza, quando não recuo, no seu confrontamento. Nunca tivemos uma assembleia da república tão cheia de negacionistas.
E rola, rola…