Opinião: A argumentação simplória
Nota antes da ordem do dia: pretendia ter escrito este mês sobre a abordagem do tema Ambiente nos programas eleitorais das candidaturas à Câmara Municipal de Coimbra. Seria, pareceu-me, um epílogo lógico às duas últimas colunas que escrevi e, talvez, do interesse dos dois leitores que tiveram paciência para as ler. No entanto nem todas as candidaturas têm ainda o programa disponível, pelo que optei por não o fazer de modo a não induzir alguma parcialidade.
De regresso à ordem do dia, a argumentação simplória. Vem este título a propósito de outro, «O Ambientalista Simplório» publicado numa revista da imprensa, sendo replicado noutros meios, inclusive na televisão. De que consta, duma argumentação ao estilo «os ambientalistas querem usar smartphones mas não querem minas de lítio» ou «o ambientalista quer energia limpa mas não quer eólicas» ou ainda «o ambientalista quer energia eólica mas as “ventoinhas” matam imensas aves» (o argumentador não se preocupa com a coerência) ou até «o ambientalista quer que as pessoas vão ao monte mas agora não quer os passadiços».
Não conheço esse tal «ambientalista» que quer coisas mas não quer as suas, aparentes, consequências. O que sei é que nem todas as soluções podem ser aplicadas em todos os casos ou em todos os lados.
O título então dado na tal revista tem pegado e sido utilizado para caracterizar este «ambientalista» que é, realmente simplório, provavelmente por contraponto ao argumentador que será «sofisticado»… teria graça ir à origem do termo sofisticado e ver que o que importava aos sofistas era menos atingir a verdade do que a criatividade, diria eu, da argumentação. E nesse ponto esta argumentação merece, literalmente, o epíteto «sofisticada».
Apesar de sofisticada é uma técnica muito básica e conhecida para vencer uma discussão. Em vez de atacar argumentos, apresentando factos, cria-se uma imagem abstracta, do tal ambientalista, atribuindo-lhe argumentos ou posições que, recorde-se, são os da caricatura criada e não do interlocutor. Apesar de básica tem o condão de ser relativamente eficaz, se o objectivo for o tal de vencer a discussão. Só que nada faz para se perceber o problema e para chegar a soluções, são meras trincheiras para as quais alguns sectores têm recuado quando as da frente são tomadas pelas evidências. Ou seja, são meras manobras dilatórias quando o que nos falta é precisamente tempo.
Quando o que é necessário é informação e conhecimento o «argumentador sofisticado» que recorre à caricatura do «ambientalista simplório» não contribui para o debate e para a solução, mesmo quando tem um programa de televisão. É pena.
a opinião é certeira mas não posso deixar de proverbiar "não gastes cera boa com defunto tão fraco".