Não ficámos todos bem, mas graças ao SNS ficámos bem melhor

Fez esta semana cinco anos que uma pandemia pôs o mundo em suspenso. E Portugal não foi exceção: estávamos a 18 de março de 2020 (dois dias depois da primeira morte pelo vírus SARS-CoV-2 no país) quando, fruto desta pandemia que viria a mudar o mundo para sempre, o Presidente da República decretou o Estado de Emergência em Portugal, pela primeira vez desde abril de 1974. A Organização Mundial da Saúde só viria a decretar o fim da pandemia mais de três anos depois, em maio de 2023. O que vimos durante esses longos meses foi bem real, mas parecia ficção – com direito a heróis e tudo, como nos filmes, mas de carne e osso. E a maioria deles veste a mesma camisola: o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
“Portugueses, acabei de decretar o Estado de Emergência: uma decisão excecional, num tempo excecional”. Foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa se dirigiu aos cidadãos, anunciando “um teste nunca vivido ao nosso Serviço Nacional de Saúde e à sociedade portuguesa”. Não exagerava. O que vivemos, nos meses seguintes, foi absolutamente novo – creio que irrepetível – e ficou marcado por imagens para as quais olhamos agora, à distância, com o nevoeiro que se apodera dos sentidos e da memória sempre que a realidade supera a ficção.
Durante aqueles meses o mundo mudou e Portugal também. As principais artérias das maiores cidades do país ficaram desertas; técnicos de limpeza, blindados por equipamentos de proteção, desinfetavam, sem parar, ruas e edifícios públicos; forças de segurança fiscalizavam as estradas, fruto da proibição de deslocações entre concelhos. Havia marcas no chão, a delimitar a distância obrigatória entre as pessoas, em supermercados com estantes vazias ou nos recreios das escolas. Os funerais decorriam à porta fechada; as visitas a lares com os idosos protegidos atrás de placas de acrílico. Livrarias, teatros e salas de espetáculo fecharam portas. As famílias fecharam-se em casa com o confinamento obrigatório, que tirou as crianças das escolas e os pais dos locais de trabalho. O mundo mudou: o teletrabalho e a telescola vieram revolucionar a forma como trabalhamos e estudamos, e até a forma como vivemos e como nos relacionamos.
A pandemia afetou-nos a todos, de uma forma ou de outra, e muitos ainda hoje enfrentam as suas consequências. Todos conhecemos alguém que morreu com covid-19, mas também todos conhecemos várias pessoas que lhe sobreviveram. Segundo os dados oficiais, houve mais de 5,5 milhões de infeções e morreram cerca de 26 mil pessoas. Se é certo que os portugueses passaram com distinção no grande teste, com uma resposta responsável, consciente e solidária, a verdade é que os números seriam incomparavelmente piores se não houvesse SNS. O nosso Serviço Nacional de Saúde teve de reinventar-se rápida, eficazmente e sem aviso prévio, de forma a garantir resposta aos cidadãos no maior e mais exigente desafio coletivo que enfrentámos nas últimas décadas. Até à campanha de vacinação, uma das maiores da história, a pressão do número de casos diários pôs no olho do furacão milhares de profissionais de saúde que, num momento de grande insegurança, responderam com união, coragem, sentido de missão – e um imenso amor ao próximo – a todos os desafios. Se a pandemia serviu para alguma coisa foi para evidenciar a incontestável importância um sistema de saúde público eficaz. Os cartazes com arco-íris espalhados pelo país não cumpriram o que prometeram – mas o SNS cumpriu: não ficámos todos bem, mas graças ao SNS ficámos todos bem melhor do que estaríamos se não o tivéssemos tido, na linha da frente, a zelar por nós.