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Médicos do Centro alertam que mais faculdades não significa mais profissionais

02 de setembro às 16h39
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O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), Carlos Cortes, disse hoje que não é com mais faculdades de medicina que Portugal vai ter mais médicos, numa resposta ao ministro Manuel Heitor.

O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, quer alargar o ensino da medicina até 2023, destacando Aveiro, Vila Real e a Universidade de Évora onde a abertura dos cursos poderá ocorrer, segundo uma entrevista dada ao Diário de Notícias.

“É preciso perceber que, para termos mais médicos em Portugal, não temos de ter mais estudantes, mas sim fazer um maior investimento na formação nos hospitais e nos centros de saúde para termos, isso sim, mais médicos especialistas”, disse Carlos Cortes, em declarações à agência Lusa.

“Dizer que por haver mais faculdades de medicina vamos ter mais médicos é uma profunda hipocrisia, porque sabemos perfeitamente que muitos dos diplomados em medicina não conseguem ter uma vaga para a especialidade, dado que o Serviço Nacional de Saúde não oferece as vagas para conseguir absorver todos os diplomados em medicina”, acrescentou.

Segundo o dirigente, “são milhares os diplomados em medicina que existem em Portugal e que não têm acesso a uma especialidade médica”.

“Se o ministro do Ensino Superior quer criar ainda mais médicos indiferenciados, isso é grave, porque não servem o país e porque muitos deles seguem o caminho da emigração, que é isso que tem acontecido nestes últimos anos”, referiu.

O presidente da SRCOM considera que Manuel Heitor “antes de propor o ensino superior de proximidade, tem de explicar aos portugueses que não são estudantes de medicina que vão tratar os doentes, pois não é uma faculdade em Aveiro, em Vila Real ou em Évora que vai permitir que as pessoas sejam tratadas e tenham o seu médico de família ou tenham acesso a outras especialidades”.

Para que haja mais médicos em Portugal, acrescentou, “é preciso criar condições aos hospitais para que os médicos que vão ser formados neste momento pelas faculdades de medicina tenham acesso a uma especialidade médica”.

Por outro lado, o presidente da SRCOM confessa que ficou “escandalizado por dois ou três motivos, nomeadamente por uma das afirmações que o senhor ministro faz sobre diminuir a exigência na medicina geral e familiar”.

“Aquilo que propõe, infelizmente, é um retrocesso de 40, 50 anos nesta especialidade em termos de exigência”, sublinhou Carlos Cortes.

O dirigente salienta que “hoje existe uma especialidade reconhecida a nível internacional, muito bem delineada, muito bem firmada, com um currículo muito específico, e o ministro quer que se volte ao passado, em que para se fazer medicina de família não era preciso ter uma especialidade diferenciada”.

“Portugal da União Europeia, do século XXI, não é um país que queira especialistas à pressão, não é um país que queira médicos à pressão, é um país que quer médicos competentes, capacitados para tratar dos seus doentes e tendo ao dispor a tecnologia diferenciada e o avanço científico do momento, não aquilo que nós tínhamos há 50 anos”, enfatizou.

Em entrevista publicada hoje no Diário de Notícias, Manuel Heitor admite que o objetivo de mais faculdades é complexo, mas diz estar a trabalhar no alargamento do ensino e da modernização do ensino da medicina.

“Acabou de ser formado o centro académico clínico em Aveiro e agora estão em preparação o futuro centro académico clínico de Évora e o centro académico clínico de Vila Real, ligado à UTAD [Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro]”, disse.

De acordo com Manuel Heitor, com estes três novos centros académicos clínicos consegue-se facilitar a capacitação científica para vir a alargar o ensino da medicina, de uma forma diversificada em relação ao que já se faz em Portugal.

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