Exposições em Coimbra e Condeixa homenageiam pintor Manuel Filipe
Duas exposições que totalizam mais de 30 obras de Manuel Filipe vão homenagear entre abril e junho, em Coimbra e Condeixa-a-Nova, este pintor neorrealista perseguido pela ditadura fascista.
O projeto cultural “Paredes de Abril”, comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, envolve o Museu Portugal Romano em Sicó (PO.RO.S), em Condeixa, concelho natal do artista, e o Museu Nacional de Machado de Castro (MNMC), em Coimbra, sendo o resultado de uma proposta do Plano Nacional das Artes (PNA).
Em conferência de imprensa, naquele museu de Coimbra, o presidente da Câmara de Condeixa-a-Nova, Nuno Moita, realçou a importância de evocar o seu conterrâneo Manuel Filipe (1908-2002), que “foi perseguido pela PIDE”, a polícia política de Salazar, e teve de enfrentar dificuldades várias para poder sobreviver como professor de desenho e geometria descritiva do ensino secundário.
António Cerdeira, do PNA, definiu o homenageado como “cidadão artista, uma figura de referência”, cujos trabalhos refletem “uma visão artística e cívica” dos portugueses e do país, a partir da década de 1940, coincidindo algumas das primeiras produções mais conhecidas com o período da II Guerra Mundial (1939-1945).
“Manuel Filipe é um insigne pintor e cidadão de Condeixa que nos deixou um legado extremamente importante”, sublinhou.
Para António Cerdeira, o neorrealista, através da sua arte, protagonizou “uma tentativa de transformar Portugal num país asseado”, procurando contribuir para “criar uma consciência” contra o regime autoritário do Estado Novo, desde logo na “fase negra” da sua carreira, no início da década de 1940, quando Portugal era “um país adiado” sem democracia, nem liberdade.
O projeto “Paredes de Abril” inclui a exposição “Manuel Filipe: da obra ao negro às cores da liberdade”, que abre ao público no dia 18 de abril, quinta-feira, às 16:00, no Museu de Machado de Castro, e que poderá ser visitada até 19 de junho.
A segunda exposição, intitulada “À procura da manhã clara”, é inaugurada no Museu PO.RO.S no dia 24, às 20:30, a que se segue “Luzes da Liberdade”, um espetáculo comemorativo dos 50 anos da Revolução dos Cravos.
O município de Condeixa-a-Nova cedeu ao museu de Coimbra “algumas das obras da fase negra” do pintor, permitindo “criar um circuito complementar entre os dois museus”, refere uma nota da autarquia liderada por Nuno Moita.
“É neste horizonte artístico-cultural que surge a denominada ‘fase negra’ do artista, revelada nas obras produzidas entre 1942 e 1945, coincidindo com os efeitos mais dramáticos da II Grande Guerra”, adianta.
Perseguido pela ditadura, Manuel Filipe dedicou-se sobretudo à docência a partir de 1947.
“Ressurgirá revigorado nos anos 60, numa nova fase cada vez mais abstracionista, afastando-se progressivamente da longa noite negra da opressão a preto e branco e fazendo irromper nos seus quadros todas as cores do dia”, explica a Câmara de Condeixa-a-Nova.
A segunda exposição integra contributos dos alunos do Agrupamento de Escolas de Condeixa, que executaram a museografia da mostra, e inclui ainda uma parede reservada à criatividade dos visitantes.
A parceria abrange a itinerância, em abril, maio e junho, de algumas das obras de Manuel Filipe por seis escolas secundárias de Coimbra, as quais já percorreram estabelecimentos congéneres de Condeixa.
Na apresentação, intervieram ainda Pedro Ferrão, técnico superior do MNMC e comissário do projeto, Jorge Venceslau, diretor deste museu em regime de substituição, e Ana Valadas, diretora do PO.RO.S.