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Espetáculo em Coimbra usa a cadeira como encontro entre “rolantes e caminhantes”

01 de abril às 12h33
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O Convento São Francisco, em Coimbra, recebe no sábado e no domingo o espetáculo “Imenso”, uma “conferência dançada” em que a partir da cadeira se estabelece um encontro entre quem caminha e quem anda de cadeira de rodas.

A criação da coreógrafa Madalena Victorino, no âmbito do Abril Dança Coimbra, junta na Sala Conventual utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC) e membros de três grupos universitários da área do teatro e da dança, num espetáculo em que a cadeira se assume como “ponto de encontro” entre “pessoas rolantes e pessoas caminhantes”.

Com banda sonora a cargo de vários elementos dos 5.ª Punkada (banda da APCC), o espetáculo desenrola-se entre momentos de dança e de conferência, onde se fala da origem da cadeira, dos seus diferentes designs (há cadeiras de diversas formas e feitios em palco), da sua presença na dança contemporânea ou dos seus usos em culturas e tempos distintos, seja a cadeira numa aldeia neolítica como espaço de reunião, a cadeira que ajuda no parto ou a cadeira democrática criada na Antiga Grécia.

Há duetos “vertiginosos”, em que as cadeiras de rodas também dançam, e vários momentos marcados pelas vontades e desejos de cada um dos utentes da APCC.

No espetáculo, Raquel “voa” com a ajuda de outros elementos numa espécie de tapete voador verde (remetendo para os momentos em que nada com a mãe na piscina), Liliana “sai do silêncio do seu corpo” para dar as boas-vindas ao espetáculo, e, com Andreia, os bailarinos aprendem o seu passo “lindíssimo” como se fosse um passo de dança.

Já Fausto assume-se como coreógrafo, ditando o ritmo e andar dos bailarinos a partir dos seus movimentos involuntários, emprestando também a sua voz para a banda sonora – “como um rugido de leão” -, Fátima dá melodia nas teclas e Jorge, o único elemento da APCC que não usa cadeira de rodas neste espetáculo, assume-se como o “coração” do espetáculo, imprimindo o ritmo com recurso à percussão.

“Tinha medo de fazer algo superficial e pouco interessante para eles. Queria perceber como podia ir ao seu encontro”, contou Madalena Victorino que, com 65 anos, trabalha pela primeira vez com pessoas com deficiência física.

Nesse sentido, houve um estudo para perceber como cada corpo “poderia iluminar-se mais”, num projeto de arte participativa em que a coreógrafa quis sempre que o grupo se sentisse como uma comunidade.

“Quero que se sintam bem, que se magnetizem e que, a partir daí, possam soltar energias”, resumiu.

Para este espetáculo, a ideia da cadeira surge com o objetivo de ampliar o seu conceito, para que a cadeira de rodas “ficasse integrada nesse mar de possibilidades que as cadeiras têm e não setoriza-las num padrão que há estigmatizado”, explicou a coreógrafa.

Liliana Ferreira, de 40 anos, notou como a cadeira para ela e para as suas colegas da APCC “é sinónimo de ir para qualquer lado”.

“Para nós, quando nos sentamos numa cadeira, não é para estarmos parados”, constatou.

Para Fátima Pinho, de 56 anos, a cadeira também é o garante de autonomia.

“Eu faço tudo na cadeira. Vou a todo o lado e faço tudo sozinha na cadeira. A minha cadeira é a minha acompanhante”, resumiu.

“A cadeira nelas tem uma força positiva, construtiva, e para nós o contrário. Tento sentar as pessoas caminhantes também para perceberem que a cadeira tem um papel importante nas suas vidas, mostrando-lhes outros sentidos para as cadeiras”, salientou Madalena Victorino.

No espetáculo, esses diversos sentidos ficam claros nos momentos de conferência e de dança, mas também quando os utentes da APCC se dirigem ao público e falam da sua cadeira, como Raquel, que falou à Lusa da sua “Action 3”, que vale “um milhão de euros” – “mas sem motorista”.

“Dá para andar para trás e para a frente, dá uma voltinha e até faz cavalinhos”, contou, mostrando todas as possibilidades da sua cadeira, seja para ir à praia ou jogar golfe com os seus apoios dos pés.

Raquel Miranda, de 30 anos, diz que tem sido “muito boa” a experiência e que sai de coração cheio deste projeto, em que, a determinado momento, voa com a ajuda dos restantes elementos.

Já Andreia Oliveira, de 39 anos, contou que quando foi desafiada pela APCC a integrar o espetáculo não teve qualquer hesitação em aceitar.

“Pensei: ‘Vamos nessa, Vanessa’”, afirmou Andreia, referindo que a aventura “tem sido muito enriquecedora”.

Depois da apresentação do espetáculo, no sábado e no domingo, pelas 16:00, o projeto termina em setembro, já sem apresentações públicas, mas com quatro dias de trabalho da equipa artística liderada por Madelana Victorino com utentes da APCC.

A ideia será passar o tempo inteiro só com estas pessoas, com prática, experiências e ideias. Esses quatro dias serão só pelo prazer de fazer e de experimentar”, frisou.

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